Esplicações sobre a “asiática” (1º de outubro de 1957)

Primeiro, um receio, uma apreensão natural. Depois, “gozações” acirradas sobre o surto epidêmico de gripe, que se alastrava gradativamente por quasi todos os paises do mundo. Um pouco de “intermezzo” a seguir e a aludida enfermidade atingiu, com certas dúvidas quanto à sua verdadeira origem, paises da América do Sul. Passou da Argentina para o Rio Grande, sem direitos alfandegários, pulou para o Rio e retornou a São Paulo, passando primeiro por Santos.

Já fez algumas vítimas entre nós. No entanto, de acôrdo com as notícias a respeito divulgadas, os óbitos não foram propriamente ocasionados pelo virus da moléstia e sim em consequência de complicações, originarias de outros males. Podemos dizer que se não fôra a pouca intensidade do surto entre nós e seu já prático enfraquecimento, as consequências seriam imprevisíveis na maioria dos brasileiros, devido ao estado geral de quasi permanente sub-alimentação de nossa gente. Em que pese as providências sanitárias tomadas pelas autoridades responsáveis, somos ainda daquelas que entendem fracas e até um pouco extemporâneas tais providências. A educação geral do povo brasileiro, quer nos parecer, não foi completa.

Por outro lado, jornais de São Paulo vivem a chamar providências em maior escala, alegando inclusive de que as informações oficiais estão sendo censuradas e deficientes, forçando os órgãos de imprensa a percorrer os locais onde se verificam os fócos de infecção, para poder informar devidamente o público.

O que é certo, é que nem todos os casos de verdadeira “asiática” são divulgados e nem todos os casos de gripe são da “asiática”. Pensamos que se todos os casos de influenza registrados fossem realmente da chamada “asiática”, as coisas não estariam no pé em que estão.

Temos observado um fato curioso a respeito:

Algumas autoridades sanitárias, em palestras ou entrevistas, deixaram claro a não existência de anti-bióticos específicos para o mal, tendo apenas preconizado medidas preventivas e preservativas para a moléstia. Por outro lado, alguns estabelecimentos farmacêuticos estão aproveitando a “deixa”, anunciando droga para o fim referido, que, em verdade, não correspondem à realidade.

Segundo conseguimos apurar, junto a autoridades sanitárias, não existe, no momento, medicamento especial para combater o virus da “asiática”. Existem medidas de precaução e providências patológicas usuais, unicamente. Assim, estão as autoridades sanitárias recomendando a todos, em síntese, as seguintes medidas preservativas, contra a gripe:

Evitar locais de muita aglomeração; evitar apertos de mão e contactos com enfermos; evitar cansaço e esgotamento físico e mental; alimentar-se bem, fazendo uso de frutas, legumes e alimentos líquidos, especialmente leite e suco de frutas; repousar diariamente o quanto mais possivel; dormir se possivel, oito horas por dia; recolher-se ao leito, quando febril e aguardar a visita médica; não abusar de anti-bióticos, sem prescrição médica; póde ser usada a aspirina aos primeiros sintomas febris, antes da chegada do médico.

A propósito, sabem que a Associação Paulista de Medicina, através da Secção Regional local, em colaboração com a classe médica, com o Centro e Delegacia Regional de Saude, estão promovendo palestras elucidativas a respeito, diariamente, no horário das 21 horas, através da Rádio Dirceu de Marília. Convém ouvir, portanto, a palavra médica a respeito.

Extraído do Correio de Marília de 1º de outubro de 1957

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