A gréve de São Paulo (22 de outubro de 1957)

Eclodiu na paulicéia um formidável movimento paredista, que atingiu proporções verdadeiramente imprevisíveis. A gréve de diversas classes operárias de São Paulo, chegou mesmo a influir e prejudicar a rotina da vida bandeirante, tendo seus reflexos atingido, política e moralmente, outros pontos do país e repercutido mesmo, inclusive, nas altas esferas administrativas de órbita federal.

Não pretendemos discutir os motivos oriundos do movimento referido, nem tampouco os direitos dos grevistas, maximé quando nos ufanamos do atual clima democrático em que vivemos.

Fazemos, como simples trabalho jornalístico, apenas um pequeno reparo aos meios pelos quais se processou a alarmante gréve. Deixando à margem, como dissemos, os direitos que reputamos incontestáveis e os motivos que não conhecemos perfeitamente e que divergem em suas formas de divulgação, externamos nosso ponto de vista contrário ao movimento grevista, pelas maneiras como o mesmo se conduz.

Entendemos a gréve como um movimento pacifico, um protesto mudo, uma reação perfeitamente humana, digna de estudos e acatamento. Tôda a greve deve ser originária de um motivo plausível e deve ser merecedora de respeito e apreciações por quem de direito. No entanto, em São Paulo, a greve em apreço não ficou cingida a êsses primordiais princípios. Ultrapassou, em certas ocasiões, os limites normais do próprio movimento e pecou em várias oportunidades pelo prejudicial excesso, tendo sido conduzida de modos a merecer censuras e represálias, à ponto de chamar à si providências policiais, não como garantias dos próprios grevistas, o que seria lógico, mas como salvaguarda da propriedade privada, o que é condenável.

Registraram-se, lamentavelmente, incontestáveis excessos no desenrolar da greve em téla. O movimento perdeu até muitos de seus direitos, quando deixou de ser normal, pacifico e perfeitamente justificado, para tornar-se ação impositória, por meios agitatórios e condenáveis. “Piquetes” de grevistas tornaram-se arruaceiros, agitadores e depredadores. Tentaram e conseguiram em parte, forçar o alastramento do movimento, mesmo quando encontraram resistência de classes congêneres. Colocaram em polvorosa e perigo propriedades alheias, precipitando acontecimentos que estavam fóra de cogitações ou possibilidades de suceder. Não tiveram a devida calma para aguardar os entendimentos necessários, processados entre seus legítimos representantes sindicais e os empregadores. Tiveram atitudes desleais para com algumas firmas e para com os próprios poderes públicos que deveriam intervir em época oportuna, como a mais legítima fôrça mediadora.

A gréve não foi propriamente uma gréve, nos moldes como deveria ter sido (des)ferida. Apresentou confusão, anarquia, agitações e excessos. Acarretou inclusive perigos, comprometendo muita gente. Desviou-se de sua réta normal, de seus princípios básicos, para merecer escárnio, ao invés de respeito e consideração.

Nem todos, sabemos, que participaram do movimento, tiveram éssas intenções. A parte que pretendeu ir à greve com sinceridade de propósitos e na defesa intrínseca de seus próprios interêsses, perfeitamente assegurados pelo espírito de nosso regime governamental, foi prejudicada pela outra, a anarquista, a confusionista, a dos métodos revolucionários, de agitação e de imposição.

Estamos simpáticos aos primeiros e condenamos os excessos dos segundos.

Extraído do Correio de Marília de 22 de outubro de 1957

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