Imprensa e policia (24 de outubro de 1957)

Dois poderes, duas autoridades, duas ações correlatas e uma só finalidade: o bem estar público.

Imprensa e polícia têm muito em comum. A imprensa orienta, esclarece, divulga, previne, combate e critica, procurando mostrar o correto, perfeitamente diferenciado do errado. A polícia fiscaliza, proteje, dá segurança e combate o mal, trazendo a certeza do bem estar e da inviolabilidade dos direitos das gentes.

A colaboração intrínseca dessas duas fôrças, só pode trazer à família brasileira, uma orientação segura e firme, o combate ao mal, a garantia da integridade individual e a preservação da moral e dos direitos contitucionais de todo o cidadão. Não será êrro o dizer-se que uma age, direta ou indiretamente, em função da outra, embora por caminhos diferentes e ações diversas. A conjugação dessas duas alavancas, apresentam uma fôrça que resulta no melhor beneficio público. A divergência dessas duas ações, ou a má orientação dos destinos de uma ou outra, reverte, diretamente, em detrimento dos interêsses normais de classe ou gentes.

Isto nos ocorreu, através de uma rápida palestra que travamos ainda anteontem, com o dr. Érico Novaes Ferreira, diligente delegado regional de polícia de nossa cidade. Conversa amistosa, surgida por ocasião do aniversário da Guarda Civil. E o delegado regional de polícia, bastante democrático, não escondeu sua simpatia e sua consideração à imprensa mariliense, declarando-nos mesmo, que tem sido deveras cativante o apôio à êle emprestado pela imprensa de nossa cidade.

Contava-nos na oportunidade o dr. Érico (sem saber que a conversa estava sendo cuidadosamente armazenada pelo reporter), algumas odisséias de sua longa vida de policial, tendo servido em dezenas de cidades paulistas. Citava-nos fatos relacionados com a imprensa de vários pontos do país, arrematando com uma lógica perfeitamente acatável e reconhecidamente comprovada, de que a imprensa sadia e bem orientada, trabalhadora e bem intencionada é u’a arma poderosa em pról do bem, enquanto a imprensa mal orientada é u’a arma nociva que favorece o mal, de uma ou outra forma. Está claro que não foi exatamente assim que se expressou S. S., mas é certo que foi mais ou menos isso que nos deu a entender. E nós estamos de acôrdo com êsse ponto de vista, por três motivos distintos: primeiro, porque casa-se perfeitamente com nosso modo de pensar; segundo, porque a palavra partiu de uma autoridade experimentada que diz o que sabe, porque sabe o que diz; e terceiro, porque foi proferida por um cidadão público bastante vivido, conhecedor de incontáveis problemas sociais, capaz portanto de apreciar com isenção de ânimo e com imparcialidade completa o bem do mal e suas consequências diretas.

Efetivamente, a imprensa é como uma bomba atômica, de hidrogênio ou nuclear; tanto poderá servir para fazer o bem como fazer o mal, dependendo tão sòmente de quem a manobre.

O delegado regional de polícia é um apaixonado admirador da boa imprensa. Considera esta como seu colaborador imediato, de poder ilimitado. Acredita piamente na imprensa de bons princípios e de moral sã, como um dos mais positivos veículos de influencia no seio público. Aceita críticas construtivas e em têrmos, como uma coisa normal e necessária e estuda cuidadosamente quaisquer referências feitas pela imprensa à polícia. Isso foi o que nos disse. E nós acreditamos em S. S., principalmente porque não o conhecíamos pessoalmente e êsse nosso primeiro contacto deu-nos a convicção de que temos pela frente uma autoridade austera sem ser carrasca e compreensiva sem ser transigente. Gostamos do primeiro encontro casual que tivemos com o dr. Érico, principalmente pela maneira cavalheiresca com que nos tratou. Se o colóquio fosse previamente estabelecido, por certo haveria tempo de ambas as partes, para estudos, prevenções, bajulações ou esquivamentos. O encontro casual mostrou-nos S. S. como êle realmente é e como procura ser: simples e sincero. A simplicidade e a sinceridade são qualidades que sempre admiramos, porque também somos simples e sinceros. Principalmente quando falamos com alguém, que, embora, elevado dentro de suas funções ou qualidades, despe-se completamente de suas prerrogativas, para conversar conosco de igual para igual, sem protocolos, sem evasivas, sem indiferentismo.

Por estar certo o dr. Érico Novaes Ferreira, que o “Correio” continuará a prestigiar as autoridades constituidas de Marília, como até aqui tem feito, desde o primeiro dia de sua circulação, no ido 1º de maio de 1928. Até aqui estivemos e continuaremos a figurar na imprensa “do lado bom”, conforme referiu-se S. S..

Se Deus quiser.

Extraído do Correio de Marília de 24 de outubro de 1957

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