Observações sobre a URSS (5 de outubro de 1957)

Esteve ha pouco na Rússia e em outros paises do velho continente, uma comissão de parlamentares, conforme é do conhecimento de todos. Na ocasião do embarque déssa delegação, escrevemos alguma coisa, dizendo de como viamos éssa comitiva viajar, isto é, do nosso ponto de vista a respeito. Dissemos na ocasião, que a delegação que fôra dividida em três partes distintas: a que foi “encaixada” como turista, a que foi com o objetivo de ver a Rússia por simpatia ao seu povo ou ao seu sistema político e a outra, mais sensata, que cumpriu fielmente a missão, observando “in loco”, com imparcialidade absoluta.

Ficamos, pois, aguardando o pronunciamento daqueles que se dirigiram para a Rússia, país maravilhoso para muita gente e nação abjeta para outra tanta gente. Não vimos uma transpiração déssas observações da maneira que desejavamos. Gostariamos de conhecer os pontos de vista de maneira a mais leal possível, por parte de todos aqueles que empreenderam éssa missão. Ao que parece, somente a deputada Conceição da Costa Neves completou mais profundamente esse no(s)so desejo. Realmente, éssa parlamentar está proferindo uma serie de conferências através do microfone da Rádio Emissora Piratininga, nas quais aborda o “modus vivendi” do povo soviético, sua política, seus trabalhos e tudo o mais, que foi dado observar à referida deputada. Francamente, a sra. Conceição da Costa Neves está dizendo coisas de arrepiar os cabelos!

Como nenhum outro parlamentar ou pseudo-parlamentar dos que integraram tal delegação, até agora veio à público contestar as afirmações da mencionada deputada petebista, aqueles que ouviram com interesse éssa série de conferência da aludida política, acham-se no direito de considerar como verdadeiras, as afirmações de D. Conceição da Costa Neves, apesar dos fatos aparentemente incríveis que a mesma oferece seguidamente.

Estavamos aguardando, como dissemos anteriormente, o pronunciamento de diversos desses delegados parlamentares (e não parlamentares que foram “engajados” de maneira estranha), para tirarmos depois nossas deduções e apreciarmos o assunto. Não podemos faze-lo, como pretendiamos, em virtude de somente D. Conceição ter saido a público, para esclarecer a sua maneira de ver e observar a Rússia e seu povo. Mesmo aqueles que participam atualmente da doutrina soviética, até agora não se manifestaram.

Acontece, que a essência do assunto, em sí, que pretendemos tratar nésta crônica, é o seguinte: pelo jeito, os parlamentares foram mais turistas do que delegados oficiais e estiveram mais a passeio do que a serviço, apesar da grande importância que tal missão lhes atribuiu. Isto, a menos que todos os brasileiros sejam obrigados a frequentar os parlamentos, para assistir as dissertações a respeito, o que seria impossível. Trocado tudo em miudo, significa que até agora, somente a deputada Conceição da Costa Neves foi capaz de dar conta do recado. A maioria silenciou e em consequência representou despesas inúteis para o erário público, significando mesmo um certo número de privilegiados, que foi passear sem precisar abrir a carteira.

Nós, entretanto, curiosos que estavamos a respeito, somos obrigados a aceitar as declarações de Conceição da Costa Neves como reais, uma vez que não foram contestadas até aquí.

Extraído do Correio de Marília de 5 de outubro de 1957

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