O Finados que passou (6 de novembro de 1957)

O Dia de Finados, êste ano, parece que apresentou menor afluência pública ao Cemitério Municipal. A não ser que estejamos equivocados, foi menor a porcentagem das visitas ao Campo Santo de Marília êste ano do que nos anteriores.

Em proporção, o grosso do movimento humano verificado nas partes da manhã e da tarde do último sábado, deve ter sido bem menor daqueles movimentos dos últimos anos. Parece que está “caindo da moda” o visitar-se as necrópoles no Dia dos Mortos.

Não pretendemos dizer com isso que registrou-se pouco movimento, mas sim que nos pareceu menor. Nos anos anteriores, principalmente no período da tarde do mencionado dia, o próprio trânsito de pedestres no interior do Cemitério fôra bem mais acentuado, por vezes difícil, não pelo sentido de desorganização do movimento dos visitantes, mas sim pela menor afluência pública. Êste ano, a locomoção de um para outro lado foi relativamente mais fácil, levando-se a crêr o que estamos afirmando.

O trânsito motorizado, pareceu-nos que equiparou-se ao dos anos anteriores, com a vantagem de ter sido melhor e mais eficientemente organizado desta vez. A êsse respeito, justo é que lavramos um voto de louvor à garbosa Guarda Civil, incansável e precisa na orientação dêsse pormenor.

Uma coisa, no entanto, vem se perpetuando a cada ano que passa, no Dia de Finados: A tristeza habitual, necessária e tradicional, vai cedendo lugar, no entender de uma grande maioria, ao pensamento de que o Dia dos Mortos é um dia alegre, festivo. Isso deduzimos, depois de termos verificado algumas ações pouco condizentes com a importância do ato visitatório ao Cemitério, como brincadeiras, risadas (por vezes escandalosas) e um verdadeiro “footing” em algumas avenidas da necrópole.

Vimos em determinado ponto, um grupo de marmanjões, arrotando ares donjuanescos, dizendo “gracinhas” a senhoritas que por ali transitavam. E lamentamos sinceramente que o dr. Severino Duarte não estivesse por perto...

No passado, não muito remoto, as coisas eram diferentes. O Dia de Finados era um dia de compenetração, de respeito, de preces e de tristeza.

Não estamos dizendo que todos os que se locomoveram até a Avenida da Saudade tenham procedido da maneira censurável que estamos referindo. É claro que apenas uma parte, possuidora de mal educados sentimentos, assim agiu. Graças a Deus, apenas uma parte.

Presenciamos casualmente, uma conversa de dois “engraçadinhos” sôbre determinadas “aventuras”. E o faziam em altas vozes, com visíveis intenções de que fossem ouvidas pelas pessoas que se encontravam nas imediações.

Enquanto muitos, contritos e compenetrados da importância do transcurso oravam ou permaneciam ao lado das sepulturas de entes queridos, outros faziam do lugar e da oportunidade uma verdadeira festa, uma autêntica diversão. Isto está errado, embora vivamos num regime democrático. Principalmente quando a liberdade e o direito de um termina exatamente onde começam os direitos do próximos. Vimos, por exemplo, uma senhora protestar contra uma verdadeira corja de desocupados, que promovia algazarras ao lado do local onde a mesma se encontrava, envolta em saudosas recordações e rendendo um tributo de saudade a alguém que lhe fôra caro no passado.

A homenagem aos mortos vai, aos poucos, ganhando um aspecto diferente, revolucionário, festivo. Pelo menos para aquêles que não são fracos de sentimentos ou doentios de compreensão e respeito.

Extraído do Correio de Marília de 6 de novembro de 1957

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