Prorrogação de Mandatos (8 de novembro de 1957)

A prorrogação de mandatos, óra pretendida por alguns parlamentares, eiva-se, sem sombra de dúvida, de uma verdadeira imoralidade. É um processo que denota temor indisfarçado de alguns deputados, que não souberam cumprir fielmente suas obrigações parlamentares e receiam a inevitável derrota nos próximos pleitos. Um meio, enfim, de continuar mais algum tempo dependurado às grossas tetas do herário público, mercê de um expediente condenável, onde se advoga em causa própria.

Gostaríamos que aquêles que são apologistas dêsse processo de prorrogação de mandatos, realizassem um plebiscito para auscultar a opinião pública a respeito.

Apesar de combatidos, os defensores dessa infeliz idéia tentam argumentar de modo infantil, as “necessidades” da questão, quando nenhuma necessidade existe e apenas conveniências pessoais que beneficiarão uns poucos, em prejuizo de muitos.

Os partidários da prorrogação dos mandatos, são, sem dúvida, os que poucas realizações de destaque conseguiram efetivar; a maioria valeu-se do cargo outorgado pela boa fé do eleitorado brasileiro, para tirar proveito próprio e para desfrutar, ao lado de uma centena de privilégios facultados por lei ou pelas circunstancias do título, aquilo que se chama “imunidades parlamentares”, qualidades desnecessárias para os que agem direito e sabem colocar-se no seu devido lugar, merecendo respeito público, como decorrência de seus próprios atos.

Hoje, como não poderia deixar de ser, as opiniões estão divididas com respeito ao interêsse em tela, da prorrogação de mandatos eletivos.

As ponderações dos favoráveis ao mencionado acontecimento já estão em palpos de aranha para argumentar convincentemente. As “razões” levantadas pelos partidários da imoral iniciativa não convenceram ainda. Os seus propugnadores tentam incutí-las no espírito público, como se fôsse um xarope que se dá às colheradas e sob promessas fantasiosas a uma criança. Acontece que a criança já percebeu o gosto do remédio e insinuações, promessas e mesmo ameaças não estão conseguindo os resultados necessários, uma vez que a recusa pela ingestão da droga está sendo um verdadeiro problema.

Não sabemos ainda o desfecho final dessa infausta luta que alguns parlamentares tão desbriadamente defendem. O que sabemos, é que a totalidade dos brasileiros alimenta muitas esperanças acerca da dignidade e bom senso da maioria dos deputados, esperando que essa maioria saiba, com a mão na razão, derrubar essa idéia imoral.

Extraído do Correio de Marília de 8 de novembro de 1957

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