Voto de analfabetos (22 de novembro de 1957)

Continua em discussão o problema atualmente em foco na Câmara Alta, acerca da instituição do direito de votos para os analfabetos.

As opiniões são diversas. Ainda não se conseguiu apurar u’a maioria esmagadora pró ou contra a questão. Os pareceres daquêles que têm sôbre os ombros a missão de solucionar tão grave questão, divergem entre si, mas nenhuma parte conseguiu, de modo positivo e cabal, subjugar a parte contrária.

Entendemos, nós, que a instituição do direito de voto aos analfabetos representa uma verdadeira imprudência política. Reconhecemos nos brasileiros em geral, iguais direitos, menos êste. É verdade que estamos num regime democrático e que numa democracia não há lugar para distinção de preferências políticas, não se justificando o afastamento dessa órbita dos que não sabem ler e escrever. Mas também é verdade que o colegiado eleitoral brasileiro ainda está bastante “verde”, crú mesmo. Se estamos nessas condições, ao entendermos êsses direitos aos analfabetos, estaríamos, ao invés de aprimorar isso que poderia ser chamado de “educação eleitoral”, estaríamos contribuindo para o desvirtuamento (já existente) do sagrado voto livre. Estaríamos, por outro lado, contribuindo para a consignação em massa de votos ingênuos ou mal intencionados a elementos confusionistas e indignos de bem representar-nos. Se já apresentamos êsse fenômeno, que é sem dúvida alguma uma decorrência natural da pouca burilada “educação eleitoral” que presentemente usufruimos, motivada por um lado pela má fé de certos candidatos embusteiros e advogados de causa própria e por outro pela boa fé e pouca compreensão do atual eleitorado, a situação seria mil vezes pior e mais degradante.

Não vemos nenhum desprezo ou indiferença de nossa parte, em sermos contrário ao direito de votos dos analfabetos. Acontece que se nos parece contraproducente tal instituição e pensamos que todos aqueles que têm um pouco de senso estão conosco.

Aqui em Marília mesmo, os analfabetos tiveram direito ao voto, estamos certos e até apostaremos que muitos analfabetos serão conduzidos no próximo pleito eleitoral a poltronas na Câmara Municipal, na Assembléia e mesmo no Palácio Tiradentes. Reflitam os leitores sôbre o assunto, que não encerra nenhum absurdo como possa à primeira vista parecer.

Nosso ponto de vista afirma-se ainda mais, em virtude de que no Brasil, qualquer cidadão que sabe “rabiscar” o nome é considerado alfabetizado!

Extraído do Correio de Marília de 22 de novembro de 1957

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