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O Natal dos pobres (27 de dezembro de 1958)

Repetiram-se em Marília, como sói acontecer todos os anos, em igual dia, as manifestações de solidariedade humana e confraternização universal e cristã, com os intentos de oferecimento de pequenos óbulos em alimentos, aos pobres da cidade. As igrejas de diversas seitas, procuraram desincumbir-se de seus papéis a respeito, obedecendo os preceitos de bondade e piedade do próprio Nazareno. Na manhã do Grande Dia da Cristandade, por iniciativa das Conferências Vicentinas da cidade, em plena Avenida Sampaio Vidal, cerca de 1.500 pacotes contendo um pouquinho de gêneros alimentícios diversos, foram distribuídos entre os pobres. A respeito, ouvimos de parte do povo que se ocupava a observar os “bichas” da miséria estendidas pela Avenida e descendo a Rua 9 de Julho, comentários dos mais desencontrados. Afirmavam uns, ser deprimente o espetáculo, dizendo afirmativas referentes ao espírito de organização que estava deixando a desejar, com gente maltrapilha e miserável, permanecendo horas seguida

Feliz Natal, leitores! (25 de dezembro de 1958)

Nesta data festiva, em que a humanidade cristã se confraterniza, estendendo-se mutuamente as mãos e entrelaçando amizades, aqui nos encontramos, leitores amigos do “Correio”. Seguindo o exemplo do Nazareno, de amor a todos, indistinção de homens, com amor a Deus e no próximo, congratulamo-nos com nossos amigos e leitores, pelo evento mais eloquente do mundo cristão. Natal! Estancam-se as lutas diuturnas e cotidianas, ao aviso dos sinos que anunciam euforicamente a Grande Data. A humanidade se confraterniza, num amplexo de compreensão sincera e amor mútuo. Tudo é alegria, porque a efeméride convida a pensar sôbre a grandeza do acontecimento. O Filho de Deus, que se fez homem para nos salvar, nasceu no dia de hoje. E nos deu o exemplo magnífico de amor aos semelhantes, de resignação, de renúncia. Na estrebaria de Belém, sôbre um punhado de feno, cercado pelos humildes e santos pais e observado pela pacata vaquinha, o Filho de Deus já se apresentava ao mundo de então e do porvir, como o e

Sofrerão aumento as mensalidades escolares (24 de dezembro de 1958)

De acôrdo com declarações do Sr. Oswaldo Coutinho, Secretário do Ministério da Educação e Cultura, as anuidades escolares sofrerão um aumento de 30% no ano vindouro (1959) . Uma Comissão Especial foi nomeada para elaborar o trabalho desse aumento, que deverá estar concluído ainda antes do fim do mês. Ao mesmo tempo, conforme se expressou aquele funcionário, a repartição referida está cuidando de um plano de fiscalização, destinado a evitar quaisquer abusos dentro do setor da cobrança dos aumentos que fatalmente virão. Informa-se a respeito, que no Estado de Minas Gerais, um grupo de diretores de diversos estabelecimentos de ensino resolveu majorar, em 40%, as anuidades para o próximo ano letivo, à revelia do Ministério (que foi ao) Supremo Tribunal (reivindicar o direito de) controlar os preços cobrados pelas casas de ensino do país. O sr. Oswaldo Coutinho garantiu que o MEC não permitirá qualquer aumento antes da conclusão dos estudos que estão sendo feitos pela comissão para isso c

Natal de póbre é um martírio (23 de dezembro de 1958)

Cada ano que passa, mais angustiante se torna para os pobres, a passagem da data magna da Cristandade. O Dia de Natal, que pelo seu excelso significado, deve representar um dos maiores motivos de alegria de todo o ano, especialmente na concepção dos cristãos, transforma-se, atualmente, numa data de constrangimento, e, sem exagero, em certos, casos, de profundo desgosto. A tradição da mesa farta, com artigos convencionadamente chamados de “próprios” a necessidade inadiável da aquisição de um presentinho para as crianças, o costume da compra de um par de sapatos novos, um vestido também novo ou mesmo uma simples camisa, representam, hoje em dia, para as bolsas dos menos favorecidos pela fortuna, verdadeiros espectros, abjetas preocupações. Um pai de família, por exemplo, com quatro ou cinco filhos e mesmo ganhando mais do que o famigerado salário mínimo, não pode, em circunstância nenhuma, adquirir nada que se coadune com a passagem dêsse grande Dia. Muitas pessoas, pretenderam adquirir

A Igreja e a Reforma Agrária (20 de dezembro de 1958)

O problema da Reforma Agrária, no Brasil, é bem mais idoso do que possa parecer à primeira vista. Do mesmo já se ocuparam estudiosos diversos que o abordaram e focalizaram-se sob diversos prismas e aspectos. Muita gente se ocupou da questão referida: estudiosos, pseudo-estudiosos, bem ou mal intencionados, políticos ou não, até demagogos e preconizadores de doutrinas políticas aversas ao regime nacional. A Reforma Agrária, executada conforme deve ser, sem que sirva de motivos de exploração ou aproveitamento para politiqueiros profissionais, que se enquadre em seus objetivos, precípuos, de amparo e fixação do homem do campo, dentro de seu próprio “habitat”, estancando o nocivo êxodo rural, é boa e necessária. Muitas explorações têm sido realizadas em torno dêsse problema, que, apesar do sentido patriótico que apresenta, não escapou ao manuseio de politicagens e de politiqueiros. Agora, a própria Igreja, talvez preocupada não só com o problema em si, mas com o andamento de idéias que em

Aumento de taxa de água (19 de dezembro de 1958)

Em junho último, aprovava a Câmara local, a Lei n. 986, dispondo sôbre a majoração das taxas de consumo de água, a partir de janeiro próximo. Na ocasião, comentamos o fato reservadamente, tecendo em torno da questão, nossas habituais críticas, de caráter construtivo. Pendíamos para a conformação do assunto, quando na reunião extraordinária realizada pela edilidade na última segunda feira, nos forçou a retornarmos ao problema. Entendemos que a Câmara Municipal de Marília laborou um grande equivoco, ao rejeitar a emenda da Comissão de Justiça, apresentada ao parágrafo único do artigo quarto do projeto n. 1062, da Prefeitura, óra aprovado e que deverá ser convertido em lei. Como sabem todos, o mencionado projeto dispõe da autorização ao Executivo, para contratar empréstimos com a Caixa Econômica do Estado, no montante total de Cr$ 6.815.000,00, destinado aos serviços de reforço de rêde de abastecimento de água da cidade. Óra, a emenda referida, aconselhando a supressão do parágrafo citado

Motivo que dá tratos à bolas (18 de dezembro de 1958)

Escrevemos ontem (17/8/1958) , sôbre a questão do congelamento dos preços, óra preconizada pelo sr. Presidente da República. Finalizamos nosso artiguete, citando um dito humorístico de um jornalista colega, que, a julgar pelas medidas propaladas, os grandes comerciantes, teriam mesmo, em face ao congelamento, que “se conformar com um lucro de 300% e nem um tostão a mais”. De início, poderia tal afirmativa parecer uma exageração sem precedentes, ou confu (n) dir-se simplesmente com uma ironia à uma classe. Entretanto, se analisarmos um único fato (dos muitos que existem), constataremos que, no fundo, a sátira em apreço tem lá a sua razão de ser. O afirmar-se que, com o congelamento dos preços, os lucros seriam fatalmente reduzidos a apenas 300% para alguns comerciantes, poderá encontrar alguma ressonância dentro do cabível, se atentarmos para um particular que se verifica à miude, não só em Marília, como também em Niterói, na Conchinchina e mesmo na Gomarábica. É a questão das “grandes

Congelamento de preços (17 de dezembro de 1958)

O efeito da bomba que se esperava, no tocante ao congelamento de preços, aquí em Marília, até agora, não teve siquer o espoucar de um traque. Se os comerciantes estão atarantados e incertos, como não estará o próprio povo, com respeito a esse problema, que, por antecipação, se apresentava como um paliativo esperançoso para a atenuação das agruras das bolsas póbres? O certo é que o mariliense, até hoje, não sabe explicar o que é o congelamento de preços como tão-pouco não é capaz de dizer se o mesmo traz benefícios ou malefícios. Em nossa cidade, na prática, nenhuma medida existe em pról da economia popular nesse sentido. Alguns comerciantes, receiosos de quaisquer aborrecimentos, estão vendendo determinadas mercadorias sem aqueles saltos de preços fantásticos, por conta própria e baseados nas cotações divulgadas para a Capital. Não temos nenhuma COMAP organizada (e isso há vários anos). Buscamos conhecer os membros do organismo próprio, aos quais estivesse aféta a responsabilidade dess

Ave, Araçatuba! (16 de dezembro de 1958)

Com inusitado orgulho, estão os araçatubenses comemorando o evento feliz, do transcurso do primeiro cinquentenário de sua belíssima cidade. Só os que de perto conhecem a “Capital da Noroeste” e seu grande, bom e laborioso povo, melhormente poderão aquilatar as razões da natural e incontida euforia, que, tão justamente domina os habitantes da majestosa “urbe” noroestina. Os que tiveram a felicidade de privar com aquela gente amiga, desfrutando o bem estar da família araçatubense, partilham também, embora à distância, da alegria dêsse acontecimento tão grato e tão auspicioso. Nós, que, por excelência, somos apologistas daquilo que se convencionou chamar de “bairrismo” e que isto entendemos não como um pejorativo, mas sim como um sentimento natural de patriotismo e amor a um torrão, congratulamo-nos na oportunidade dessa efeméride, com o grande povo araçatubense. Araçatuba, completando cinquenta anos de independência municipal, pode ostentar com orgulho uma folha de realizações que ultrap

O Natal e os órfãos da Filantrópica (14 de dezembro de 1958)

Aproxima-se o dia de Natal, a festa máxima da Cristandade. Com ele, a alegria natural pelo evento e a esperança verde de dias melhores para o ano porvindouro. Toda gente procura bem interpretar o significado dessa data majestosa e por todos os lares, desde o mais humilde ao mais abastado, tenta-se emprestar à efeméride um valor invulgar e uma tradução. Felizes os que, embóra póbres, possam passar tão magnífica data reunidos com suas famílias, ausentes de doenças e aborrecimentos que destas resultam. Há os que, entretanto, não possuem o calor de um lar de sua propriedade natural, não contam com o aconchego daquele calor paterno e materno, embora vivam num ambiente condigno e humanitário. Várias facções se incluem nesse particular, mas as que mais sofrem e as que mais sentem essas agruras, são, por certo, as criancinhas com a mente em formação. Pensamentos infantís não estão bem aparelhados para receber o impacto desses resvaloes da própria desdita, desdita atenuada ou diminuída pelo car

Mais um Posto de Abastecimento do SESI (12 de dezembro de 1958)

Na última reunião da Delegacia Regional do CIESP, por ocasião da indicação de nome para figurarem como membros da COMAP, veio à baila uma questão de sua importância para a classe industriaria mariliense: à idéia de empenhos junto ao Serviço Social da Indústria, no sentido de dotar Marília de mais um Pôsto de Abastecimento daquêle organismo. Nossa cidade já conta com um dêsses estabelecimentos, que incontáveis préstimos e facilidades oferece aos contribuintes do IAPI. Ali, em virtude da isenção de determinadas taxas e impostos, gêneros de primeira necessidade são adquiridos pela grande e laboriosa classe, por preços inferiores aos do mercado normal. Significa isso, numa ocasião em que tantas queixas existem contra os IAPS, no que tange a falta de amparo condigno aos contribuintes interioranos, uma forma de retribuir pelo menos em parte direitos adquiridos. Nossa cidade, embora não seja “velha”, não deixa de apresentar a condição de um grande centro. Suas dimensões são gigantescas e a “u

A Segunda Vara Judiciária (11 de dezembro de 1958)

Não data de hoje os esforços de Marília, através de seu povo e seus diversos órgãos representativos e poderes constituídos, além da imprensa, no sentido de serem desdobrados os serviços forenses da Comarca, com a criação de mais uma Vara Judiciária. O assunto, prenhe da mais integral justiça e sem nenhuma aparência ou realidade de pretensão pura e simples, mereceu atenções especiais de nossa edilidade, da Sub-Secção local da Ordem dos Advogados do Brasil e também de nossa parte (Jubileu de Prata da Comarca, artigo publicado em 16 de setembro de 1958) . Muitos empenhos foram feitos nesse sentido, com justificativas das mais abalizadas e com a apresentação de provas as mais satisfatórias possíveis. O número de processos, de diversas faces, a serem apreciados e julgados por um único magistrado em Marília, demandam esforços verdadeiramente sobre-humanos, tornando impossível a uma só pessoa, por maior boa vontade que possua e por mais despreendida que seja, sem desempenho completo e rápido.

Ser póbre é ser malabarista (6 de dezembro de 1958)

Em conversa conosco, mostrava-se um amigo, admirado de que ele, com apenas dois filhos e ganhando relativamente bem, não conseguiu nada mais fazer do que tratar a família com palpável dificuldade, enquanto outras pessoas, com família mais numerosa e ganhando menos, conseguem até dar-se ao luxo de possuir casa própria. De fato, têm razão, apenas que não se dignou encarar as coisas como elas realmente são. Por exemplo, a outra pessoa citada pelo nosso amigo, embora “dando-se ao luxo de possuir casa própria”, leva, forçosamente a vida de maneira diversa, não vivendo, mas apenas vegetando. Um mês paga a farmácia e não paga o armazém. Outro, paga o armazém e não paga o açougue. No outro, paga o açougue e não paga a quitanda. E assim por diante. Os filhos vivem mal vestidos e sub-alimentados. Milagre ninguém faz, a não ser Deus. Os filhos da “outra pessoa” não podem usar calçados, “embora morem em casa própria”, não vão ao cinema e nada mais estudam do que o elementar curso primário. Só assi

Brinquedos para as crianças pobres (5 de dezembro de 1958)

Aproxima-se o Natal, data máxima da Cristandade. Ao par das festividades naturais e tradicionais do grande dia, comum é o premiar-se as crianças com brinquedos. O costume generalizou-se e não há criança que não alimente uma esperança, por mais leve que seja, de ser aquinhoada com um presentinho qualquer. Pais de família, mesmo pobre, realizam esforços por vezes ingentes e sacrificiosos, para fazer com que seus filhos não fiquem em condições de inferioridade ante os filhos dos vizinhos, para que não cresçam com complexos ou para que não apresentem recalques ou afetações. É natural, pois, tal sacrifício dos pais de família. Entretanto, muitas crianças não poderão ser beneficiadas com essas providências. Principalmente as órfãs ou desamparadas. Com respeito a êsse fato, êste diário inicia hoje, fundamentada na compreensão do público mariliense, uma campanha de aparência que poderá até ser interpretada como pueril, mas que não significará oneração para ninguém e que tem por objetivo único,

Círculo de conferências (4 de dezembro de 1958)

Não há muito, dissemos através desta coluna, que urge em Marília a arregimentação de valores intelectuais, em projeção ou formação, no sentido de fundar se em nossa cidade um Círculo Cívico de Conferências. Tal organismo, é hoje em dia imprescindível aos grandes centros e aos grandes povos. O despertar-se o gosto por assuntos diversos, com palestras, conferências e mesmo debates democráticos e esclarecedores, representa uma lacuna para os marilienses, especialmente para aqueles que alentam ou alimentam gosto pela intelectualidade. Proporcionar às pessoas nessas condições, a oportunidade de travar conhecimento mais direto, com problemas e causas educacionais, científicas ou históricas, especialmente questões de mais importância momentânea, é uma urgência inquestionável. Raras vezes, conforme dissemos no passado, tem tido o mariliense o ensejo de apreciar palavras de autoridades diversas em assuntos variados, que, sob o patrocínio de uma ou outra entidade, aquí tenham se apresentado. O p

Gritas sem razão (3 de dezembro de 1958)

Nosso colega Antônio Fernão de Magalhães, num de seus brilhantes artigos há pouco publicado neste jornal, fez referências à mocidade mariliense e à falta de meios de diversão ou preocupação da mesma. Não têm razão total, os rapazes que se queixaram ao nosso prezado companheiro. Marília, de fato, é uma cidade pobre no chamado sentido de oferecimento divertivo aos seus filhos. Entretanto, considerando-se a sua idade, Marília ostenta lugar de maior projeção do que muitas de suas irmãs mais velhas e de maiores recursos. Vejamos: a mocidade clama, porque é u’a mocidade diferente. Diversão de moço de hoje, regra geral, é excesso em qualquer sentido. Comedimento quase não existe. Temos uma bem organizada Biblioteca Pública, só procurada em último recurso pelos estudantes, como extrema fonte de consultas. Temos uma Sociedade Luso Brasileira, com suas portas abertas, boas discos e aceitável biblioteca. Temos uma piscina regulamentar no Yara Clube. Temos bailes todos os sábados e “brincadeiras”

Remodelação de valores (2 de dezembro de 1958)

Com vistas à formação da próxima Câmara de Vereadores e com o objetivo de encontrar-se um categórico substituto para o atual Prefeito Municipal, toma vulto na cidade o chamado movimento de renovação de valores. Do povo, atingiu até os partidos políticos. Pelo que vimos e pelo que conseguimos entender, em rápidos colóquios com altos dirigentes da política local, a idéia contaminou a todos em geral. Hoje em dia, só se fala e só se pensa em aplicar uma vassourada (com licença do sr. Jânio Quadros), nos velhos políticos da cidade, para substituir o número por elementos chamados novos (em idade e em política). Está aí uma coisa que embora tenha as suas vantagens, não deixará também de apresentar inconveniências, que o bom senso manda analisar e atentar. Se fato é que temos entre nós antigos políticos, hoje carcomidos pelos anos e cujas idéias nem sempre se amoldam aos pensamentos dos novos, ingrato será o desmerecer assim, tão flagrantemente, aqueles que já souberam emprestar um pouco de se

Curso de jornalismo (29 de novembro de 1958)

Às vezes, acontece. Numa circunstância qualquer, uma pergunta qualquer, de aparência simples ou inocente, pode embaraçar um indivíduo. Sucedeu conosco tal fato, ainda há poucos dias. Uma pessoa nos parou na rua. Pessoa que embora conhecêssemos de vista, jamais soubemos o nome e onde trabalha, ou quem é a sua família. Enfim, um mariliense comum. Desculpando-se pela interrupção de nossa caminhada, nosso interlocutor fez questão de confessar-se ledor de nossos escritos e nos atirou, “de corpo presente”, uma carroçada de elogios. Pela abundância de adjetivos com que fomos mimoseados, quase chegamos a crer que David Nasser, Assis Chateaubriand e outros “cobras” fossem “café xicrinha” perto de nós. Mas, como dizíamos, as perguntas às vezes embaraçam, mesmo sendo banais. Nosso amigo espontâneo, em dado momento da palestra nos perguntou: “Como você aprendeu a escrever?” Pensando que se tratasse de brincadeira, uma vez que a pergunta nos deixara em situação um tanto esdrúxula, levamos o caso pe

Um problema educacional (28 de novembro de 1958)

Nosso companheiro de redação, reverendo Álvaro Simões, eterno preocupado com os problemas de ensino, tendo dado já, sobejas provas de seu acendrado amor pelas causas educacionais, abordou outro dia, na Câmara Municipal, um problema assaz interessante. Diz respeito à necessidade de extinção do chamado tresdobramento dos cursos primários, mantidos pelo Govêrno. Sabido é que o autor destas linhas não é professor e nem poderia, ante isso discutir a questão dentro de alicerces sólidos e irrefutáveis. Entretanto, por dever de ofício, temos a preocupação natural de apreciar as questões diversas, que digam respeito aos problemas gerais e de interêsse público. No que tange aos problemas de educação, sempre tivemos o interêsse de advogar em suas causas, pela grandeza extraordinária que tais questões encerram em nosso país. Assim é que sempre formamos ao lado daqueles que batalharam ou venham a batalhar sob qualquer forma, pela melhoria ou aperfeiçoamento das coisas educacionais. Isto posto, rest

O Divórcio (27 de novembro de 1958)

Por mais de uma vez, foi feita no Brasil a tentativa da instituição do divórcio entre nós. Por mais uma vez também, frustrada foi a idéia, que movimentou inúmeros intelectuais e estudiosos, com o acarretamento de discussões, polêmicas e apreciações sôbre âugulos diversos. O problema é complexo, dizem. Encontramos em nossa redação, correspondência dirigida ao autor desta coluna, solicitando nosso pensamento a respeito. Certo é que a carta veio com endereço errado, pois seríamos nós os menos capazes de emitir uma opinião segura sôbre tão arrebatadora questão. Não nos furtaremos, entretanto, em atender o pedido. Exato seja, representará uma opinião puramente pessoal, de competência lógica de qualquer cidadão. Como dissemos, o assunto jamais nos apaixonou de fato. Sempre ficamos à sua margem, como expectadores dos mais neutros possíveis. Isso não nos impede, entretanto, de formarmos um juízo próprio, de conformidade com nossa própria razão. Em princípio, somos anti-divorcistas, por convicç

Mais telefones para Marília (26 de novembro de 1958)

Êste jornal em especial e esta coluna em particular, sempre debateram a questão da insuficiência de telefones em Marília, maximé nos últimos tempos, quando o vertiginoso progresso ultrapassou as expectativas mais otimistas, dos marilienses e dos observadores forasteiros. Efetivamente, nossa cidade, pelo vulto de seu progresso, pelo calor de seu dinamismo, pela voragem de sua expansão em todos os sentidos, reclama, de há muito, melhor serviço telefônico, não no sentido técnico propriamente dito, porém sob o ângulo de arraigamento. No ano passado, ao conhecermos o plano da Companhia Telefônica Brasileira, no sentido de aumentar o número de telefones na cidade, manifestamos nossos aplausos pela intenção, cumulados de nossos protestos pelo modo com que se pretendeu realizar a idéia. Discordamos dos planos da CTB, porque os entendemos prejudiciais e contrários aos interêsses dos marilienses. Buscamos elementos justificativos e os encontramos na cidade de Araraquara, onde o contrato fôra fir

O colunismo Social (25 de novembro de 1958)

Noticiar fatos ocorridos dentro da sociedade, é missão imprescindível de todo e qualquer órgão de divulgação. Seja jornal ou rádio, é veículo tem o dever de noticiar o que acontece, dentro do raio de suas ações. Entretanto entre o noticiar e o nortear e insinuar, existe uma diferença enorme. O colunismo social de hoje em dia, principalmente nos órgãos de imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro, em que pese a força e os resultados comprovados, constitui-se num verdadeiro cancro, prejudicial à própria moral e índole de nosso povo. Revolta a qualquer sêr, especialmente aquêles que constituem a maioria e que não se incluem na “panelinha”da absurdamente chamada “gente bem”, as notícias dêsse timbre. Só interessam, de fato, a u’a minoria (minoria pequena, sem redundância, sem pleonasmo). Só interessa de direito, a um grupo de boas vidas, não afeito ao “batente”, desconhecedor do “basquete”, ignorante da luta cotidiana pelo ganha pão do pobre, “boa vida” habituada ao “dolce far niente”, acostu

Mundo de mentiras (22 de novembro de 1958)

Desde pequenos, todos ouvimos a mesma cantilena de fundo sinceramente doutrinário, de que “é feio mentir”. Nas aulas de catecismo, nos ensinaram também que “é pecado mentir”. Mais tarde, no Exército, incutiram-nos na “massa cinzenta” de que “o homem não mente”. E assim por diante. Não foi preciso chegar à idade que temos, para perceber que todos fazem exatamente o contrário. Todos mentem, só que alguns mais descaradamente do que os outros. O combate à mentira é um fato e deve ser velhinho. A mentira deve ser mais antiga ainda, pois originou êsse mesmo combate. A criança mente quando faz uma travessura ou quando come um doce escondido, ou ainda, quando pratica uma peraltagem. Mente quando não estuda e mente quando “gazeteia” as aulas. Seja homem, seja mulher; o ser humano só não mente enquanto não fala e não raciocina. Todos mentem. O namorado mente à namorada e esta mente mais ainda ao candidato a sua mão – mão que traz um corpo para vestir, para tratar e uma boca para comer. O dentist

A questão de querer compreender... (21 de novembro de 1958)

Recebemos, há muitos dias, uma carta. Foi antes de interrompermos as nossas atividades, em virtude da mudança de endereço dêste jornal. A carta abordou alguns de nossos escritos, acêrca da administração do atual Presidente da República. Continuou a deixar-nos em dúvida: ou existem muitos fãs do sr. JK em Marília, ou existe um apenas, com a condição de teimoso, que se utiliza de todos os métodos, inclusive do disfarce, para nos contradizer. Nós não somos contra o sr. Juscelino Kubitschek, repetimos. Somos contra o atual Govêrno da República, cargo e não homem. Não somos estudiosos no assunto. Não somos matemáticos, financistas, observadores atinados. Somos apenas, uma pequena fração do povo. Sentimos como todos, os dissabores, as angústias, as decepções, o clima de insegurança, a ameaça do cáos moral e econômico. Sentimos que alguma coisa não está bem. Sentimos que essa “coisa que não está bem” é uma consequência direta da má rota do atual govêrno, ou melhor, do desgovêrno atual. A cart

Retornando... (20 de novembro de 1958)

Bom dia, leitores! Depois de meio mês de ausência, aqui nos encontramos novamente. Estivemos com nosso jornal fóra de circulação durante o lapso de tempo dispensado durante os trabalhos de mudança de nossa redação e oficinas. Encontramo-nos agora em novo endereço. Depois de permanência de cinco anos ali na Rua 9 de Julho, junto à “Casa das Novidades”, instalamo-nos agora no prédio n. 500 da Avenida Carlos Gomes. Nosso jornal deixou de circular durante 15 dias. Meio mês ficamos, contra nossa vontade, sem difundir e divulgar as causas e coisas de Marília, sua corrida louca de progresso, sua vertigem de dinamismo, as ações de sua gente. Nem por isso, entretanto, deixamos de acompanhar o andamento da engrenagem dessa máquina fabulosa que se chama “Marília”. Ao par das atribuições dificílima de mudança de nosso diário, estivemos também observando e presenciando o desenrolar dos acontecimentos gerais. E isso tudo, damos um pequeno resumo dos principais fatos, dos primordiais cometimentos que

“Prata da Casa” (4 de novembro de 1958)

Nésta coluna, conforme sabido é, sempre tivemos a preocupação desinteressada de realçar e ressaltar tudo o que se refere à Marília e seu povo. Quando isto não sucede, focalizamos assuntos reputados de momento e de importância e interesse geral. Não escondemos a predileção especial que nos imbui, quando se nos oferece a oportunidade de colocarmos em evidência fatos e coisas locais, objetivo que se casa perfeitamente com os propósitos de nossa missão e com os interesses de destaque das coisas citadinas. Assim é que abordaremos hoje um fato sumamente auspicioso para nossa cidade, relativamente ao campo musical. Temos valores conhecidos em Marília dentro desse setor, como todos sabem. Sem menosprezo aos demais, justo é que se destaque a sensibilidade artística de um mariliense como o violonista e compositor Octávio Lignelli. O apreciado professor de violão, cuja arte todos apreciam pela maneira fácil, escorreita e penetrante como é difundida, acaba de marcar mais um belíssimo tente néssa s

Dia dos Mortos (1 de novembro de 1958)

Hoje, Dia de Todos os Santos. Amanhã, Dia dos Mortos, dobrarão os sinos à Finados. Contritamente deverão todos reverenciar a memória e a saudade de entes queridos e amigos saudosos, hoje desaparecidos. Coroas, ciprestes, velas e flores... Ao lado disso, corações apertados, rememorando a vida daqueles que partiram. Finados! Dia de respeito, de reverência, de saudade. Data de recordações, de visitas às campas onde repousam o sono eterno, aqueles que conviveram conosco ontem e cujas lembranças nos são tão caras. Movimentos característicos da prosperidade da data, verificar-se-ão em todos os Campos Santos. Pelas ruas das cidades dos mortos, caminharão gente de todas as idades, sexos e posições sociais. Tôdas estarão igualadas em pensamentos, tôdas estarão equiparadas em idênticos propósitos, porque tôdas estarão prestando análoga homenagem a uma lembrança saudosa, a um nome querido. Terços desfilarão, dedilhados por mãos ágeis ou dedos trêmulos. Rostos contritos não poderão esconder a tris

Só dando com um gato morto... (31 de outubro de 1958)

Aborda-nos um cidadão ilustre de Marília. Depois dos cumprimentos, alguns “confetis” e palavras diversas, acaba por passar-nos uma “big” descompostura, deixando-nos a matutar sôbre suas palavras algo voluntariosas e pelo modo como defendeu um ponto de vista contrário daquilo que entendemos. Censurou-nos êsse amigo, pelo fato de termos manifestado, em escritos anteriores, nosso ponto de vista de que o atual Presidente da República não está fazendo o govêrno que dêle esperávamos (como esperam milhares outros de brasileiros). Sucede, porém, que discordamos da idéia de nosso leitor e amigo, discordância essa que mais se solidificou, quando solicitamos ao mesmo que nos expuzesse as razões pelas quais classifica o sr. Kubitschek como um bom govêrno. Perguntamos ainda se era a questão “Brasília” que o consagraria e quais as providências de fato e de direito palpável que poderiam ser apontadas como corroboração do dito. Não ficamos convencidos com a argumentação de nosso interlocutor, porque t