O Eterno Sacrificado (21 de janeiro de 1958)

Falar-se em povo, misérias, sacrifícios, vida cara, etc., até dá a impressão de imprensa de idéias contrárias ao atual regime, uma vez que tais “chapinhas” são por demais exploradas por órgãos dessa qualidade.

No entanto, de nossa parte, a questão nada tem de ideológica, a não ser a ideologia verdadeiramente nacionalista e sobretudo mariliense.

O povo é mesmo o eterno sacrificado.

Indiscutivelmente, muita coisa anda “fóra dos eixos” néstes Brasís.

O custo de vida em geral, é mais ascensorial do que um foguete pirotécnico. Tudo sobe, dia a dia. Se dispuséssemos de um quadro estatístico oficial, poderíamos afirmar aos nossos leitores, um índice de aumento extraordinário nos últimos meses. Em tudo e por tudo. E essa onda de acréscimos acentuou-se mais, apenas se propalaram os estudos para a reestruturação do salário-mínimo no Brasil. Do período de discussões e estudos, até a sanção da lei em referência, muitas tirar sairão ainda dos costados da população. Isso é inegável.

As tarifas de fôrça e luz subiram assustadoramente. As taxas telefônicas ensaiam um acréscimo dos mais contundentes. A carne subiu, o arroz ameaça um “pulo” fantástico, os calçados foram às nuvens. Tudo sobe no Brasil, exceto o índice de vergonha de muita gente.

Deputados adquirem “cadillacs” ao câmbio oficial, para comércio em causa própria. Os magnatas dos lucros enriquecem do dia para a noite. Mesmo assim, afirmam os economistas, o comércio brasileiro, de modo geral, não apresenta hoje a solidez de 20 anos passados.

O Presidente da República, em várias ocasiões, afirmou de público que o custo de vida baixou no Brasil!

Até os livros e os estudos em nosso país, custam caros. No entanto, os professores queixam-se de que percebem insuficientemente.

Deve faltar alguma coisa em nossa República. Deve existir alguma falha em nossa administração governamental. O espírito de patriotismo, muitas vezes, não permite que analisemos as coisas como realmente são. A gente tem a obrigação de ser otimista. Sucede que o otimismo, sempre, justifica o fechar-se os olhos à dura realidade.

O povo brasileiro continua a ser o eterno sacrificado.

Hoje já nem a classe considerada média, vive folgadamente. Até os ricos se queixam da vida!

O homem pobre, chefe de família numerosa, por mais trabalhador e bem intencionado que seja, chega a desanimar-se. O ganho é insuficiente hoje em dia, para a mais modesta das vidas.

E parece que não haverá remédio, enquanto não se proceder uma transformação radical no setor administrativo do país. Nem sempre, é claro, pode-se culpar os governos. O número de auxiliares diretor destes, arca com maiores responsabilidades, mercê da mesquinhez de espírito de muitos brasileiros. A maioria de nossos patrícios, só pensa em “se arrumar”. O resto que se dane.

O salário mínimo “vai sair”, segundo se afirma. Se anotarmos a base do custo dos gêneros, roupas, calçados, serviços médicos, hospitalares e farmacêuticos, etc. de hoje, em comparação àqueles que pagaremos alguns dias após a promulgação da lei em cogitações, deduziremos sem dificuldades que a diferença da elevação dos salários em nada “refrescará”, em relação aos aumentos que verificar-se-ão fatal e matematicamente desta data até lá.

Tais fatos, se já servem para gritos de nossa parte e da parte de tôda a imprensa, inúmeros outros motivos apresentam para órgãos subversivos ou de idéias exóticas.

O povo é mesmo, o eterno sacrificado.

E para nós, no Brasil, sem tantas razões.

Extraído do Correio de Marília de 21 de janeiro de 1958

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