O preço do amendoim (10 de janeiro de 1958)

Não discutimos de cátedra o assunto, porque dele pouco ou nada conhecemos. Baseamo-nos apenas nas informações que nos prestaram alguns agricultores locais, quando trouxeram até nós uma reclamação de que em Marília não estão sendo atendidas as bases da fixação governamental do preço mínimo do amendoim.

Informamo-nos os queixosos, de que o mercado deveria ser cotado no preço mínimo de 162 cruzeiros por arroba, estando sendo pago a 120 cruzeiros. Por outro lado, os próprios reclamantes informam não acreditar em culpa no caso, dos compradores locais e sem das máquinas de São Paulo e Santos.

O assunto em sí, não é bem o que interessa ao motivo désta crônica. O que nos interessa e a desgarantia e o inestímulo com que até aquí tem sido vitimas os nossos lavradores. E quando falamos em lavradores, estamos nos referindo aos pequenos agricultores, aos meeiros, aos empreiteiros e não nos grandes proprietários, os quais sempre dispõem de meios de sair melhor da empreitada do que aqueles outros.

A lavoura, até aquí, tem sido praticamente esquecida. O financiamento agrícola, o fornecimento de máquinas e implementos, adubos e sementes, o crédito rural, a garantia de preços mínimos, a assistência técnica, etc., tem servido de oratória demagógica a quasi todos os candidatos políticos. Entretanto, aqueles que realmente precisam de todas essas coisas (sem contarmos com escolas, higiene, assistência médica, e muitas outras), tem sido olvidados sacrificados.

Temos observado que na abertura das cotações do mercado de diversos produtos agrícolas, os preços tem sido ínfimos. Esse fato tem forçado os que são fracos a vender o produto das safras mesmo com prejuízos, porque as dividas e os compromissos assumidos durante o período agrícola avolumou-se de tal sorte, não permitindo a espera, o armazenamento ou deposito das safras. O mesmo não sucede com os que podem, que conseguem deixas as colheitas armazenadas enquanto o preços não chegar a casar-se, se não totalmente, pelo menos em parte com seus próprios interesses.

Os Estados Unidos nos dão exemplos frizantes de como se ampara, regra geral, o agricultor norte-americano. Nós, brasileiros, que primamos pelo fato de imitar tudo aquilo que se nos assemelha correto, exato, beneficente, por que, então, não seguimos o mesmo caminho?

As eleições logo virão. Nas plataformas políticas, não faltará a “chapinha” acima explicada. Aguardem e verão.

Extraído do Correio de Marília de 10 de janeiro de 1958

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