Ocauçu quer ser município (4 de janeiro de 1958)

Divulgamos em nossa edição de ontem, a íntegra de um memorial subscrito por diversas pessoas residentes em Ocaucu, entregue à Mesa da Assembléia Legislativa, pelo deputado Márcio Porto, aspirando a emancipação política daquêle distrito.

Pretensão justa, sem nenhum negar. Responsabilidade enorme, pretendida pelos ocauçuenses.

Em palestra ontem com um vereador situacionista local, quisemos ouvir através do mesmo, o pensamento do Prefeito a respeito da questão. Nosso entrevistado expendeu, não o ponto de vista do Chefe do Executivo mariliense, mas sim o seu próprio. “Seria bom para Marília”, declarou. E justificou a afirmativa, dizendo que, com exceção de um único distrito de nosso município, todos os demais apresentam “deficits” anuais, sobrecarregando o passivo do orçamento muncipal.

“Estradas, água, luz, telefone, etc. para os distritos custam somas estimáveis à Prefeitura. Regra geral, a receita dos distritos nem de leve se equipara à tais despesas. Nessas condições, para a Prefeitura é de certo modo interessante a emancipação de alguns distritos” – concluiu nosso entrevistado.

Efetivamente, temos visto muitos casos no passado, em que distritos de grandes centros pleitearam e conseguiram sua independência administrativa. E realizaram aquilo que se diz comumente na gíria – “a pior viagem”.

Nosso vizinho Oriente, por exemplo, encontra-se nessas condições, Lutou muito para emancipar-se politicamente, conseguindo-o. Hoje traduz-se num município bastante pobre, com um progresso apenas regular e acarretando para tôdas as administrações da comuna, uma série de dificuldades, uma vez que a receita é insuficiente para fazer face à despesa.

Conhecem-se inúmeros casos com o citado. A maioria como consequência de manobras políticas e interêsses eleitoreiros. “Tramam-se os pauzinhos”, sai a decretação da independência administrativa dos distritos pretendentes e o povo dêsses núcleos, sem o perceber, passa a viver condições municipais piores do que as anteriores.

Não é a primeira vez que Ocauçu tenta êsse desiderato. Em absoluto não censuramos o povo ocauçuense por essa pretensão; apenas lembramos aos interessados nesse movimento, que, antes de mais nada, se dêem ao cuidado de apreciar a arrecadação que adviria ao eventual município, fazendo uma comparação com as despesas forçadas do funcionalismo municipal, máquinas, gastos necessários etc..

Para a Fazenda Estadual, a criação de novos municípios significa novas despesas de orçamento, novos aumentos de funcionários públicos, uma vez que, no mínimo, de início, devem ser criados um Centro de Saúde e uma Coletoria.

Em todo o caso, interêsses ou não do Estado a respeito, ou dos municípios acerca do desligamento de seus distritos, nem sempre são consultados. Nos casos em tela, o que mandam são as manobras políticas e estas, vez por outras vencem.

Aguardemos o desfecho, respeitando os desejos do povo de Ocauçu.

Extraído do Correio de Marília de 4 de janeiro de 1958

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