“Se eu fosse jornalista...” (11 de janeiro de 1958)

O amigo leitor já se imaginou na pele de um trabalhador da imprensa? Já pensou em ser procurado por A ou B, que não gostando de C ou D, vem exigir que o rabiscador assuma a posição de taboa de bater roupa, isto é, resolva casos particulares que muita gente não tem oportunidade ou coragem para solver?

Pois isto nos acontece quase diariamente. Muita gente entende que a pessoa que escreve num jornal, é obrigada a “meter o pau”, a desmoralizar, a difamar, a encetar campanhas contra Pedro ou Benedito, porque Pedro ou Benedito desagradou êste ou aquêle.

E quando ouve a negativa, explode logo: “Você tem é medo; se eu fosse jornalista eu fazia, acontecia, etc. e tal”.

Interpretar uma crítica, não é fácil. Especialmente para a pessoa ou pessoas criticadas. Receber elogios, “confetis”, todo mundo gosta, todo mundo se regala. Uma “peninha” na vida, ou ação de qualquer cidadão que não esteja em condições de avaliar a liberdade de crítica, os méritos da mesma, o direito de quem escreve, é um Deus nos acuda. Pode acontecer um empastelamento do jornal ou um incêndio na cidade. Pode acontecer tudo, menos a integral compreensão de uma pessoa dessa natureza.

Isto dizemos, porque somos procurados à miúde, pelos mais variados tipo de leitores, para os mais variados tipos de reclamações e contra as mais variadas pessoas ou empresas.

Óra é um que deseja que “casquemos a ripa” na Paulista, porque não tem leitos para o “seu abóbora” viajar; outra vez, é o homem que está há oito anos na lista da Telefônica aguardando a instalação do aparelho e a Telefônica “não liga”; há também os que desejam que “desçamos a lenha” em determinado médico, porque o mesmo cobrou determinados milhares de cruzeiros para fazer determinada operação cirúrgica; há ainda o caso daquele que tem raiva ou ojeriza por determinada pessoa, e, descobrindo um “podre” da mesma, vem eufórico ao nosso encontro, desejando que divulguemos o fato.

Nossa missão, entretanto, é bem outra:

Temos por finalidade combater o errado, sugerindo medidas corretivas. Censuramos o ilegal, batalhamos pela justeza de ações, divulgamos e informamos. Orientamos em certos casos, porque essa é a missa da mesma imprensa, essa é a função do jornalista.

Acontece que o “gozado” de tudo isso, é que quando somos procurados para uma “bronca” ou “desabafo” de interêsse, colocamos logo nossas colunas à disposição do reclamante. Com uma única condição: que o mesmo assine o artigo, assumindo, em consequência, a sua inteira responsabilidade. Aí, então, o gajo “pula na parede”, isto é, “afina”.

Nesses casos, nada melhor do que a gente repetir para as pessoas assim enquadradas, aquele trechinho de u’a marchinha carnavalesca do passado: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco?”

Extraído do Correio de Marília de 11 de janeiro de 1958

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