Servidor Emerito (12 de fevereiro de 1958)

Em reconhecimento aos bons serviços prestados em pról do aperfeiçoamento e difusão da ciência contábil, o Governador Jânio Quadros, acaba de conferir, “post mortem”, o título de Servidor Emérito, ao extinto prof. Francisco D’Aurea.

O decreto governamental alusivo à consignação dessa justa e merecida honraria, tem o número 30.828 e data de 7 último.

O falecido prof. Francisco D’Aurea, foi, sem dúvida, um grande precursor da contabilidade em nosso Estado e no Brasil. Enquanto a maioria daquêles que freqüentaram escolas de comércio, ao saírem dos estabelecimentos educacionais com o pergaminho debaixo do braço jamais procurou se preocupar com o prosseguimento da cultura da ciência contábil, o prof. D’Aurea foi um estudioso apaixonado, infatigável, voluntarioso em seus estudos e difusão.

Além da folha de serviços prestada ao próprio ensino no Brasil, dentro do setor de contabilidade e finanças, deixou o ilustre morto uma coletânea de livros didáticos admiráveis e úteis, muitos dos quais adotados oficialmente pelas variadas escolas de comércio de nosso país.

Exerceu com raro brilhantismo o honroso cargo de Contador Geral da República. Nêsse posto, procedeu total e radical racionalização do sistema contábil oficial, e, sua perspicácia foi de uma valia inestimável aos órgãos financeiros da Nação, seguidamente referida por autoridades do Govêrno.

Ocupou, em decorrência dêsses conhecimentos, cimentados através de longos e longos anos de prática contábil, com grande desenvoltura e sendo alvo de admiração e encômios, o cargo de Secretário da Fazendo de nosso Estado. Foi também Contador Geral do Estado, onde reprisou a mesma conduta e os mesmos exemplos demonstrados, quando da chefia do mais responsável e maior órgão técnico de contabilidade da União. Mais tarde ocupou também o cargo de Secretário das Finanças da Municipalidade bandeirante.

Foi o prof. Francisco D’Aurea, desde seus tempos de estudante da Escola de Comércio “Álvares Penteado”, onde se formou e onde mais tarde foi emérito e capacitado professor, um dos mais ferrenhos divulgadores e aperfeiçoadores do sistema de contabilidade por “partidas dobradas”. Tal processo é difundido hoje em dia, como o mais cabal, o mais completo e prático, para permitir à uma organização comercial ou industrial, os meios de saber-se, em qualquer época do ano, a verdadeira situação financeira e de solidez de uma firma. No passado, segundo nos conta a própria história da ciência contábil, era um verdadeiro “bicho de sete cabeças” tal método, divergente das “partidas mistas” ou “partidas simples”. Seu inventor foi um matemático italiano, de nome Lucca Pacciollo. Cremos, no Brasil, nenhuma autoridade contábil tenha se interessado e estudado tanto tal processo, quanto o prof. Francisco D’Aurea.

Demonstrou o sr. Jânio Quadros, ao conferir o título “post mortem” de Servidor Emérito ao prof. Francisco D’Aurea, uma forma de reconhecimento necessária. Efetivamente, poderíamos dizer, perdeu o Brasil um de seus eficientes contadores e um dos mais renomados mestres de contabilidade, isso sem citar-se o valor de sua contribuição à formação técnica de milhares e milhares de brasileiros, espalhados por todos os recantos da Pátria.

Extraído do Correio de Marília de 12 de fevereiro de 1958

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