Campanhas dos Cafés Finos (21 de março de 1958)

Tivemos no passado, a oportunidade de abordar a questão; não do ponto de vista técnico, mas sim sob o âmbito de observação pura e simples. Louvamos a iniciativa da Campanha dos Cafés Finos, porque achamo-lá necessária e digna.

Não mudamos objetivamente nosso entender, com respeito aos disideratos da campanha em si. Notamos, entretanto, alguns “senões” na promoção de tal empreendimento. Focalizamo-los em época pretérita.

Hoje voltamos ao assunto, depois de termos assistido à inauguração da aludida publicidade em Marília. Sinceramente, não conseguimos entender bem a eficiência do fato e tivemos, até certo ponto, sensível desilusão.

Preliminarmente, consideramos inócuos os resultados positivos de tal publicidade. No asfalto, no rádio e na televisão, temos a impressão, não se obterão os resultados intrínciscos da mencionada iniciativa. Mesmo observado o movimento por um fazendeiro ou um lavrador, êstes não estarão em condições de introduzir nas lavouras os efeitos da campanha, nem mesmo de fazer com que os que diretamente colaboram com a produção da rubiácea, consigam entender, em seus mínimos detalhes, a objetividade dos fatos.

Estranhamos, na mencionada Campanha, a publicidade comercial intercalada, dando aproximada idéia de confusão. O caboclo interiorano fica indeciso, enleiado. Vimos muita gente sem saber “o que estava acontecendo na Avenida”. Parece que os processos da aludida publicidade começaram errados. Pomposidade não resolve, principalmente quando se trata de dirigir-se diretamente à gente do interior. Nós, caboclos, sabemos disso melhor do que ninguém.

Demonstrações em praça pública e “gingles” publicitários de produtos industriais, dentro dum mesmo movimento, nada esclarecem.

Não sabemos se os responsáveis pela referida iniciativa conhecem bem os sistemas de produção cafeeira de nossa região. Não temos a certeza se os mesmos já viram os processos de secagem de café, em cuja maioria de pequenas propriedades agrícolas nem “terreiros” adequados existem.

Essa Campanha deveria obedecer dois pontos fundamentais: primeiro, proceder providencias governamentais de amparo à lavoura cafeeira nacional, fixação de preços mínimos para o produtor e designação de preço-této para o exportador. No caso de oscilação da balança internacional, para maior, a diferença deveria ter aplicação em beneficio da própria lavoura, para evitar-se o que vem acontecendo no Brasil, desde que começou a produzir café: o enriquecimento de poucos em detrimento de muitos, principalmente dos que mourejam no duro, de sól a sól, plantando e colhendo o “ouro verde”. Segundo, ser mais objetiva: demonstrar diretamente “in loco”, de modo simples e mais suscinto, com menor estardalhaço, a necessidade dêsse incremento, cujo fundo, repetimos, tem indiscutivelmente o seu lado patriótico. De nada adianta propaganda em televisão, rádio, jornal, asfalto. O caipira que planta, cuida e colhe o café, não conhece televisão, não ouve rádio e não gasta sólas em asfalto. Portanto, a Campanha tem as suas eivas de ineficiência, embora conduza dentro de sí grandes méritos.

Por outro lado, estando o comércio cafeeiro norte-americano (que domina o setor referido em todo o mundo), prestigiando o café africano e venezuelano, em prejuizo palpável do mercado cafeeiro nacional, temos cá as nossas dúvidas se os resultados déssa Campanha, especialmente nos moldes com que vem sendo feita, póssa compensar o mundão de dinheiro que a respeito deve estar sendo gasto.

Sem exagero, afirmamos uma coisa: Pouquíssimas pessoas que presenciaram o acontecimento em Marília, conseguiram bem compreender o sentido real da promoção. A maioria procurou ver, curiosa as gigantescas máquinas. Isso constatamos, em palestra com algumas dezenas de pessoas. E achamos que as mesmas tem razão. Ou será que somos nós, marilienses, menos inteligentes que os demais patrícios de outras plagas?

Extraído do Correio de Marília de 21 de março de 1958

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