Eleições à vista (28 de março de 1958)

Logo estaremos comparecendo às urnas eleitorais, para depositar nossos votos naquêles nomes que melhor consultarem nossos interêsses.

Principia já a ferver o caldeirão da propaganda política. Mas ainda estamos no princípio dessa barulhada tôda. Estamos apenas percebendo, disfarçadamente, os primeiros balões de ensaio daquêles que atacarão em cheio dentro em breve.

O primeiro espoucar de “bombinhas” já foi ouvido. Logo, surgirão os “morteiros”. E algumas “dinamites” também.

Não faltaram em Marília, como jamais faltaram no passado, os “doutores promessas”, os pretensos “amigos de Marília” – “essa Marília bela e encantadora e êsse povo bom e trabalhador”.

Convém acautelar-nos, enquanto é tempo. É bom rememorar os fatos passados e atentar para os erros pretéritos.

Sabemos que muitos marilienses “se esborralharam” de trabalhar em pleitos idos, um pról de promessas de empregos (que quase nunca foram cumpridas). Os próprios candidatos alienígenas, ao travarem os primeiros contactos com os “cabos eleitorais” (deveriam chamar-se “camelos eleitorais”), ficam saturados de pedidos e atolados em promessas. Prometem tudo o que lhes é solicitado, “tomando nota”. Se eleitos, esquecem-se. E mesmo que não olvidem, jamais poderão cumprir o prometido, tamanha é a cifra das promessas empenhadas.

Sabemos de um político de fóra, conhecidíssimo em Marília, que prometera empregos públicos à cerca de cem pessoas na cidade. Imaginem os leitores, que nos conhecemos apenas êsse número, o que dá o direito de dedução de um sól ainda maior!

Da maneira que as coisas nêsse sentido estão sendo “ensaiadas”, poderemos antever um número de quinze candidatos, aproximadamente em nossa cidade, incluindo-se, os “paraquedistas”. Não é necessário ser-se muito inteligente, para aquilatar das poucas possibilidades em “fazermos” um deputado mariliense. A menos que o eleitorado tenha aberto suficientemente os olhos desta vez, em face aos exemplos anteriores!

A dispersão de sufrágios, portanto, será inevitável. Só porque o propalado amor por Marília não existe realmente. O que existe entre a maioria de nossa gente, é o sentimento inequívoco de conveniências pessoais. A começar pelos políticos locais, que jamais se preocuparam em atentar para o fato de que quanto maior fôr o número dos candidatos da terra (sem contar-se os “caçadores de votos”), menores serão as possibilidades positivas de nossas aspirações a respeito e mais firmes serão as “chances” de repetição dos êrros do passado.

É tempo, sem dúvida, do eleitorado mariliense reagir. É tempo, sem dúvida, do eleitorado mariliense reagir (a) acontecimentos anteriores. É tempo também de Marília fazer sentir a sua própria voz nos parlamentos, tendo um delegado próprio, ao qual se exija, sem mendigar, trabalhos em pról da cidade e de nossa gente.

Estamos saturados de pedir de chapéu na mão, em escadarias e corredores de palácios. Podemos perfeitamente prescindir dessa condição. Principalmente quando temos meios para eleger nossos representantes e gente capaz de nos representar.

A palavra final é do próprio povo. Êle é que deve saber se prefere sua independência parlamentar e representativa ou se deseja continuar “indo na conversa” e permanecendo na indesejável e crônica orfandade de Marília nos Palácios 9 de Junho e Tiradentes.

Falta de exemplos (maus) é o que não é.

Extraído do Correio de Marília de 28 de março de 1958

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)