“Museu Relâmpago (1 de março de 1958)

Irão os “pracinhas” da F. B. E. de Marília, conforme se sabe, emprestar também sua colaboração ao Dia do Município.

Será, por certo, uma participação modesta, simples, de sentido inédito entre nós. Verdadeiramente “sui generis”. Os expedicionários apresentarão na Semana de Marília, um “museu relâmpago”, onde os marilienses terão o ensejo de ficar conhecendo diversos objetos e apetrechos relacionados com a participação do Brasil na última guerra mundial.

Armas, munições, objetos de uso pessoal, condecorações, vestimentas, calcados etc., desconhecidos de muita gente, serão expostos nessa mostra, com a qual a Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, Secção de Marília, participará do movimento que surgirá natural e espontaneamente, no que tange ao engalanamento de vitrines comerciais da cidade. Será u’a maneira pouco comum, não resta dúvida, de participar também da efeméride do município; entretanto, bem intencionada. Ao par do sentido eminentemente curioso e inédito, demonstrará a lembrança pela cidade, daquêles mesmos que, no passado, representaram Marília no Campo de Honra, incorporados à milhares de patrícios dos mais diversos recantos do país, e, irmanados com os soltados das Nações Aliadas, souberam dignificar a farda que vestiram, pagando à Pátria o mais sagrado tributo do sangue.

Objetos diversos, de pequena valia material, apresentaram valor espiritual inestimável, porque, cada um tem uma história, cada um representa uma saudade, um fato, um sacrifício ou uma vitória. Os “pracinhas” guardam com carinho indizíel tais objetos, que para êles significam relíquias. Não são muitos, relativamente. Entretanto, um número mais ou menos suficiente para dar uma idéia de muitas coisas utilizadas e empregadas na última guerra, quer pelas tropas brasileiras, quer pelos soldados alemães.

Incrível o apêgo que os combatentes têm acêrca de coisas que aparentemente nenhum valor ostentam. Êles, entretanto, estimam êsses objetos de modo desmesurado, invulgar. Só eles saberão realmente bem interpretar suas valias, porque cada coisa tem uma pequena história, ligada diretamente a um trecho da vida de cada um. Uma peça de roupa um “combat boot”, uma pistola, u’a medalha, mesmo um maço de cigarros (agora embolorados) ou um tubo de pó dentifrício, são guardados como relíquias. O mesmo acontece com vistas da Itália, algumas fotográficas de retagrarda, recortes de jornais, etc.. Um patrimônio verdadeiro, cujo valor real é ínfimo mas cuja importância espiritual é inestimável.

Alguns dos objetivos que serão expostos nêsse “museu relâmpago”, são de propriedade da Secção local da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil; outros pertencem aos diversos “pracinhas” de nossa cidade.

Os ex-combatentes participarão, assim, exibindo alguma coisa curiosa aos olhos públicos, das homenagens que se tributarão ao Dia do Município, além de suas palestras íntimas realizadas em sua séde social, como acontece em tôdas as passagens de datas cívicas ou históricas. Tal proceder é até uma decorrência dos próprios estatutos da entidade que congrega, em todo o Brasil, os participantes da última guerra mundial.

A exposição referida terá lugar numa das vitrines da “Relojoaria Cenedesi”, prazerosamente cedida para êsse fim.

Poucos marilienses conhecem, temos a certeza, algumas armas de guerra; poucos sabem como se portaram os “pracinhas” brasileiros em combate. Poucos, ainda, conhecem Ordens de Serviço assinadas pelo Marechal Mark Clark, então Comandante do V Exército, ao qual estava incorporada a F. E. B.. E muitas coisas mais, que os “pracinhas” exibirão nesse “museu relâmpago”.

Pensamos que valerá a pena presenciar o ato dessa iniciativa e boa vontade dos expedicionários marilienses. Se não atingir tal exposição os objetivos colimados, de uma coisa temos a certeza: os intentos são louváveis.

Extraído do Correio de Marília de 1 de março de 1958

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