Os “play bestas” (6 de março de 1958)

É necessário acabar-se, no Brasil e no mundo, com a prepotência do dinheiro.

Não vai nisto a menor propaganda comunista de escravização ou de pretensa igualmente de classe, mas sim de vergonha, de autoridade, de (h)ombridade e de responsabilidade criminal.

Chegam até nós, através dos noticiários dos jornais e rádios, a insolente atitude de alguns garotos glostorados, tidos e havidos como “gente bem”, que, à rigor, não passam de refinados cafajestes. Fundaram um malfadado “Clube dos 50” em Guarujá e ali “botaram a banca”. Deram prejuízos sem conta a bem intencionados cidadãos, a honestos trabalhadores. Causaram transtornos à sociedade e preocupações à família e deram trabalho à polícia e ao Juizado de Menores.

Acobertados por nomes tradicionais, impondo um respeito de que não são dignos, nem como homens nem como humanos, entenderam e levaram a efeito uma série de atitudes que diretamente ferem os princípios de dignidade de um povo, os foros de decência dos brasileiros. Useiros e vezeiros de espalhafatos, endeusados em causa própria, cometeram desatinos dos mais abomináveis.

Viciados, marginais, certamente maus filhos e maus alunos. Eis o que são os “play boys” do famigerado “Clube dos 50”. Vergonha de uma família, pejo de todo o mundo, tentaram escarnecer e hoje são escarnecidos, odiados.

São filhos de grã-finos. São apaniguados de alguns “tubarões”, que procuram justificar as “cafajestadas” como próprias da idade. Absurdo, dos mais descabidos. Falta de “lenha”, falta de “couro”, falta de trabalho, necessidade de passar fome, de viver uma vida de necessidades, de sentir nas carnes as asperezas do momento. Criados em berço de ouro, filhinhos de papai, mal criados, mal educados, mimados, tiveram mesmo motivos e justifilativas para agir de semelhante maneira.

Se fosse um de nossos filhos, um dos filhos de nossa cidade, seria fatalmente cognominado como “tarado”, anormal, doido, etc.. Ninguém o tiraria da cadeia, Ninguém o defenderia.

Filho de pobre, se excede na bebida, mesmo num momento de lazer, é “pau d’água”m senvergonha, ordinário, etc. e tal. Filho de grã-fino é “boêmio”, folgazão, alegre.

Isto é que está acontecendo em Guarujá. Uma vergonha. Uma afronta aos foros de civilização dos nacionais. Um exemplo pejorativo para alguns “cabeças de vento”. Um motivo de sensacionalismo para alguns órgãos de imprensa mal orientada.

Os “play boys” – nome que identifica e realça sem deprimir –, são é mesmo uns “play bestas”. É fácil acertar atitudes desconexas como a dêles. Só antídoto de igual porte: “rabo de tatu”. Pra malandro, malandro e meio. Pra força, lei de força. Nada de alisar. Nada de tatear. Nada de auscultar. O jeito é “larcar” um porrete no “piolho” dessa canalhada que brinca com a polícia, brinca com o Juizado de Menores, brinca com a sociedade.

Êles brincam lá em Guarujá. Lá onde vão os grã-finos, os que encaram a vida de modo diferente. Onde vão os turistas endinheirados, onde roda “whisky”, “pacos” de maconha e outras coisas. Por que êles não se metem a fazer dessas no interior, com a caboclada simples e sincera, essa cablocada que ajuda a construir a grandeza do Brasil mas que não gosta que ninguém se faça de besta e dê ordens em suas casas? Por que êles não “topam” um delegado de polícia como o dr. Severino para fazer as suas canalhices?

Êsses glostorados não são “play boys”. São “play bestas”. E são até sabidos. Se tentassem fazer essas cachorradas no interior (em Marília, Tupã, Franca, Bauru ou outra qualquer cidade), êles veriam “com quem casariam suas filhas”.

É uma vergonha moral para o Brasil, a atitude dêsses molecões fantasiados de “gente de bem”. Indecentes, amorais, desbriados. É necessário que a autoridade policial seja “mais homem” que êsses cafajestes. Afinal, a tranquilidade pública e a segurança do patrimônio privado e individual, devem, assim, sem mais e nem menos, ficar sujeitos ao sadismo de meia duzia de “tarados”?

É preciso apanhar êsses cafajestes pelo gasganete e fazê-los saber “com quantos paus se faz uma canoa”.

Sabem lá o que é a destruição de um patrimônio particular por um maluco, só porque tal ato representa “jóia” para o ingresso no famigerado clube? Podem os leitores deduzir os direitos e as razões do prejudicado, no ato de defesa daquilo que é seu? O próprio Código Civil não garante a defesa do patrimônio particular?

De uma coisa temos certeza: Os “play boys” (“play bestas”) não destruiram nada de algum caboclo de sangue nos olhos. Se isso tivesse acontecido, não sobraria um “play boy” pra contar a história...

Por outro lado, êles jamais “baixariam” numa cidade onde existisse um delegado de polícia com o nome de dr. Severino.

Extraído do Correio de Marília de 6 de março de 1958

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)