Teatro para Marília (22 de março de 1958)

Quando foram iniciados em São Paulo os trabalhos de substituição das telas dos cinemas locais, lembramos ao público de que nossa cidade, que já não possuía teatro, iria ficar sem um lugar apropriado para alí serem realizadas apresentações teatrais. Isto porque, os cinemas propiciavam tal adaptação, com o levantamento ou recúo de suas telas antigas, o que não sucede hoje, em virtude de que as “panorâmicas” são fixas.

Na oportunidade, citamos mesmo o exemplo do “Teatro de Alumínio” de Sorocaba, de baixo custo e de probabilidade de satisfação ao fim, das mais completas. Referimo-nos, que, a não ser os palcos de alguns estabelecimentos de ensino, nenhum lugar dispomos para acomodar representações artísticas. Isso, sem dúvida, traduziu um arrefecimento ao já pequeno entusiasmo reinante no setor do teatro amadorista local.

Referimo-nos, posteriormente, ao Grêmio “Leopoldo Fróes”, da visinha cidade de Garça, dizendo do exemplo magnífico que os garcenses nos davam. Deduzimos que só mesmo a gente de Garça seria capaz de bem saber com que sacrifícios vinha sendo mantida a entidade, numa luta permanente para que o amor pela arte teatral não desaparece, como aconteceu em Marília.

Hoje, tem os garcenses a recompensa da persistência a respeito. Garça foi incluída, em janeiro último, no Plano Estadual de Estímulo ao Teatro. Merecidamente, diga-se de passagem.

Marília ficou à margem, por falta de iniciativas próprias, por não ter “mexido o corpo” em época noturna.

Como “depois da casa arrombada o brasileiro prega taramela à porta”, houve movimento posterior, de nossas autoridades municipais. Fizeram um apêlo ao órgão competente (Comissão Estadual de Teatro), no sentido da inclusão de Marília dentro dos benefícios do decreto estadual 30.755, de 27-1-58. Felizmente, a solicitação de nossa cidade foi bem acolhida de início, o que já é um grande consôlo. Está a comissão referida propensa a incluir Marília nesse plano citado. Certamente, dentro de outro diploma legal, porque o decreto em téla já foi sancionado e está em pleno rigor.

Se, de um lado, devemos apresentar congratulações aos nossos homens públicos, que tiveram a iniciativa de solicitar a inclusão de Marília nesse plano, mistér é também que censuremos mais uma vez, a pusilanimidade existente nesse campo em nossa cidade. Valores em projeção e em despontamento, existem inúmeros em nossa cidade. É só verificar, através dos corpos teatrais amadores dos estabelecimentos de ensino de Marília, para aquilatar-se das razões desta afirmativa. Muita gente com vocação inequívoca para a arte, perdida por falta de estímulo, de meios, de amparo.

Isso vem confirmar o que dissemos ha poucos dias, num de nossos comentários subordinados ao epígrafe “Votos & Candidatos” (nota dos editores deste blogue: ver textos blogados aqui nos dias 19 e 20/3/2010), acêrca de que Marília perde muitas coisas de âmbito oficial, por não ter representação nos parlamentos. Não tendo quem advogue diretamente seus direitos e nem quem a oriente em ações reivindicatórias, teremos mesmo que continuar ao léu das oportunidades e de lutas muitas vezes tardias.

Lógo teremos as eleições. Logo seremos visitados pelos candidatos alienígenas, com seus engodos eleitoreiros e seus discursos pré-fabricados. É bom, desde já, ir atentando para todos esses fatos. É bom rememorar os acontecimentos passados, os erros pretéritos, a falta de senso já demonstrada publica e oficialmente e os resultados negativos desses mesmos erros.

Está, pois, na hora, de elegermos um candidato mariliense.

“Errar é humano; persistir no erro...”

Extraído do Correio de Marília de 22 de março de 1958

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