Preços dos Medicamentos (12 de abril de 1958)

Alguns órgãos da imprensa paulistana, divulgaram recentemente a grande elevação de preços sofrida nos medicamentos de origem nacional. A notícia a respeito, teve um tiquinho de “descoberta”, quando, na realidade, foi bastante extemporânea. A alta nos preços dos medicamentos não se verificou recentemente e sim vem sendo efetivada gradativa e intermitentemente.

Difícil é o produto farmacêutico, hoje em dia e de há muito tempo, que consegue manter-se durante trinta dias consecutivos dentro da mesma cotação. Aquêles que são pais de família e que andam às voltas com médicos e farmácias sabem perfeitamente disso. Sinceramente, quase não existe um medicamento – desde os mais raros até os mais comuns – que não “suba” semanalmente. Parece até exagero de nossa parte essa afirmativa, mas não o é.

Nós mesmos, desta coluna, já abordamos a questão. Nessas “broncas” não vão insinuações contra os revendedores das farmacias locais, pois êstes nada mais são do que instrumentos involuntários dos laboratórios.

O que nos causou espécie, foi o gesto dos lideres da indústria farmacêutica, distribuindo folhetos “esclarecedores” à opinião pública, como medida justificadora da atitude. Causou-nos espécie, repetimos, essa “justificação”, porque não é agora, em absoluto, a primeira vez que se verificam altas. As elevações dos preços são constantes, quase diárias, e nunca os lideres da indústria farmacêutica se preocuparam em “esclarecer o público”.

Alegam em suas razões os laboratórios, através de seus representantes, que a mão de obra sofreu altas (o que não será se o novo nível do salário-mínimo for aprovado?). que as matérias primas de importação subiram de preço. Etc. e tal.

Se fosse um caso esporádico, vá lá; mas essas altas se verificam seguidamente e nós temos provas suficientes do que estamos afirmando, porque, como todos os demais, andamos sempre às voltas com as farmácias da cidade. Temos notado que remédios dêsses chamados comuns, dêsses que qualquer pessoa “prescreve” e que todos conhecem e usam em suas casas, oscilam de preços (para maior, é claro), cada três, quatro ou cinco dias.

Ao lado dos encômios que merecem aquêles que fabricam remédios para aliviar males do povo, não podemos deixar de lavrar também nossas críticas mais severas, contra as atitudes das pessoas que “brincam” com a saúde do próprio povo, arbitrando os preços das drogas, de acôrdo com conveniências ou interêsses comerciais. Todavia, se as drogas mantivessem sempre o mesmo poder terapêutico, ainda vá lá. Acontece, porém, que os efeitos de remédios caríssimos, diminuem seguidamente. A própria penicilina, que foi considerada não há muito como a mais milagrosa das drogas farmacêuticas, já não apresenta o mesmo poder anti-biótico do passado!

Em resumo e para finalizar, a “explicação” dos laboratórios farmacêuticos não constituiu nenhuma novidade, por ter sido divulgada com grande e lamentável atraso, denotando, antes de tudo, falta absoluta de quaisquer providências em pról do já sacrificado povo brasileiro!

Extraído do Correio de Marília de 12 de abril de 1958

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