Apreciação feminina (30 de maio de 1958)

Escrevemos ha pouco (22/5/1958) um artiguete, apreciando êsse absurdo que se convencionou chamar de “móda saco” e que falta do que fazer de alguns pouco ocupados e da falta de trabalho e dinheiro sobrando para o mundo feminino.

Pois não é que “quasi o mundo veio abaixo”?

Não faltaram opiniões manifestadas (publicamente, através de cartas e de telefonemas anônimos) acêrca do motivo. Recebemos pareceres (?) diversos. Xingaram-nos, elogiaram-nos, disseram-nos “cóbras e lagartas”. Diz o ditado que “o que vem de baixo não atinge”. Conosco, o caso é diferente: nem o que vem “de cima” nos atinge. Porque sabemos “onde temos o nariz”, graças a Deus.

Não ha pretensão nisso, não. É que apesar de tudo, abordamos somente aquilo que conhecemos e previamente estudamos. E quem estuda antecipadamente um assunto, conhecendo-o seus mínimos detalhes, está em condições de aprecia-lo e mesmo discuti-lo.

A “móda saco” é um “abacaxi”. Uma demonstração patente de máu gosto. De ignorância. Para sermos mais francos de burrice.

Mas vamos aos assuntos de alguns pareceres que nos chegaram ao conhecimento:

Uma leitora que, ao telefone, disse chamar-se “Lôlô” perguntou-nos “porque não gostamos de mulheres” e se somos “inimigos das mulheres”. Absolutamente.

Outra nos inquére se sômos infelizes no matrimônio. Tambem não. E podemos prova-lo.

Outra, não quiz declinar o nome. Pela voz, meia idade. Pela palavra, senso, conhecimentos, experiencia, vida. Pela conversa, cultura. Está ao nosso lado. Entende em que obramos bem ao abordar o assunto da “móda saco”, uma indecência. Muito obrigado, pela solidariedade – solidariedade que não é bem um apôio, porque traduz o ponto de vista desapaixonado e manifestado exatamente por quem têm autoridade (mais do que nós) para pronunciar-se sôbre o assunto.

E tem tambem o caso da outra, cujas iniciais na carta são “R. R.” e que disse que desejará ver “nossa cara” quando a “móda saco” “pegar” (“e não vai demorar” – afirmou). Filhinha, recomendamos novamente a leitura de nosso artigo a respeito, porque alí nós próprios dissemos que a gente se acostuma a tudo e até nós poderiamos nos habituar ao tal sistema.

E para aquela que nos chamou de “sem gôsto”, “sem predileção”, sem “poder intuitivo de apreciação”, dizemos que exatamente por termos gosto, predileção e poder intuitivo de apreciação é que somos contrários ao absurdo que se chama “móda saco”. Disse-nos essa missivista que tem 17 anos e que usará dentro em breve a “móda saco”, sem que tenhamos nós a insolência (?) de critica-la. Filhinha, a crítica já foi feita. O impedimento não nos compete (graças a Deus). Pelo menos, você terá um grande consôlo: Se ficar “titia”, poderá recordar com saudade, no futuro, o tempo em que usou a “móda saco”, causando-lhe uma sensação diferente...

O nosso artigo anterior, que criou toda ésta “celêuma”, foi um simples escrito diário. Um ponto de vista. U’a manifestação de pensamento. Não significa nenhuma proibição ao uso da famigerada “móda saco”. Você, “R. R.”, póde sair na Avenida sem receio de nossa parte. Garantimos que não assobiaremos, não atiraremos pedras e nem a denunciaremos à polícia. Para isso, vivemos numa democracia, não é?

Não podemos abordar todas as opiniões que nos chegaram ao conhecimento. Só uma coisa, temos certeza. Mexemos com a vaidade de muita gente de saia. O intuito não foi bem esse. Acontece que as coisas ficaram nêsse pé e nós não somos gatos – isto é, não costumamos “pular para traz”.

Extraído do Correio de Marília de 30 de maio de 1958

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