Ciências e Filmes (21 de maio de 1958)

Verdade que Marília possui duas casas de espetáculos cinematográficos que pódem e devem ser consideradas boas. Mas o número é insuficiente para atender os reclamos da população local, sem qualquer contestação.

Ademais, o sistema de distribuição de filmes, realizado pelo circuito Pedutti, não satisfaz inteiramente a avidez dos apreciadores da “sétima arte”. Isto é, um filme só exibido nos dois cinemas ou então mostrado numa casa e em seguida na outra, privando ao público a oportunidade de uma variação mais constante.

Além disso, Marília, com mais de 50 mil habitantes na séde, comporta bem quatro ou mais casas do gênero, sem citar-se os bairros populosos, como São Miguel e Palmital, que bem merecem o seu “cinemazinho”.

Em relação às cidades de vulto e de expressão em todos os sentidos, daquelas servidas pela Empresa Pedutti, quer nos parecer que só duas se encontram néssa condição de esquecimento: Marília e Araçatuba.

Não vamos advogar reivindicações de Araçatuba, por falta de direitos e porque lá existem pessoas além de capazes para tanto; mas no que diz respeito à nossa cidade, é justo que o assunto seja focalizado. Nesse particular, está sendo re-focalizado.

O Sr. Pedutti, que tanto declaradamente tem se mostrado amigo de Marília, deveria atentar com mais carinho para o fato. E deveria convencer-se, como experimentado comerciante e observador que é, que existem fundamentos nas inúmeras queixas que lhe tem sido levada ao conhecimento.

Dois únicos cinemas, numa cidade como Marília, é um número ínfimo em relação às suas carências.

O Sr. Pedutti, que goza de um privilégio (porque é privilégio o monopólio dos cinemas em quasi todo o interior), bem que poderia atender os apelos dos marilienses, formulados mesmo através da própria Câmara Municipal. Alias, a edilidade nada mais fez do que cobrar uma promessa do próprio sr. Pedutti em nossa cidade. Mas nesse particular, o sr. Emílio Pedutti agiu como um político consumado: soube prometer e deixar o povo às moscas.

Não cremos que o diretor-proprietário da Empresa Teatral Pedutti, tenha, para com os marilienses, idéias de ludibriação. Mas prometeu e até agora não esboçou nenhuma ação de pretender cumprir o empenhado.

Marília comporta, sem exagero, mais um ou dois cinemas centrais, afóra, é lógico, os bairros Palmital e São Miguel.

Outra coisa que pretendemos lembrar ao Sr. Pedutti, é a necessidade de encarar com mais atenção o setor de distribuição dos filmes destinados à nossa cidade. Ultimamente temos sido vitimas (o têrmo é bem êste) de uma série de películas de péssima qualidade, verdadeiras “bombas”, amputadas e quasí mais velhas do que a própria República. E tem acontecido o inevitável: O mariliense tem procurado o cinema (mesmo porque em Marília não existem outras diversões e divertimento de póbre é cinema), para amainar um pouco o espírito cansado das fainas diárias, para esquecer por momentos os atropêlos da vida, as contas, os encargos de família etc., resultando disso um efeito inverso – sai do recinto enfezado, neurastênico, xingando todo o mundo, revoltado consigo mesmo. E ele tem razão a maioria das vezes. Temos visto filmes que são verdadeiras tormentas para os objetivos daqueles que se dirigem aos cinemas da cidade.

O mariliense, nesse setor, deveria ser melhor servido pelo sr. Pedutti, que diabo!

Sabemos que os gerentes dos cinemas locais não têm culpa alguma do sucedido, porque o plano da apresentação das películas em todo o circuito Pedutti é formado e executado por um departamento especializado. Da mesma fórma, o Sr. Pedutti não iria ficar inteiramente devotado a escolher os celulóides que devem ser exibidos em Marília, porque tem outras coisas que fazer. Mas que déve inteirar-se “às quantas” anda tal departamento, isso déve. Afinal, o mariliense não é obrigado a “engolir”, quasí seguidamente, pedaços de filmes de péssima qualidade e da pior condição, por descuido (ou prevenção?) do tal departamento distribuidor de Botucatú.

Esperamos que, com êste apêlo (que não é o primeiro e talvez não seja o último), o sr. Emílio Pedutti consiga por a mão na consciência e convencer-se de que temos razão. Se duvidar, aquí vai uma sugestão: ordene aos seus gerentes que façam um “plebiscito” sôbre o fato ou que venha ele mesmo manter contacto com o público local, para aquilatar a verdade.

Nós sabemos disso, porque, sendo uma tenda de jornal o receptáculo de todas as reclamações, aspirações e reivindicações de um povo, estamos já cansados de receber queixas. E justas, frize-se.

Extraído do Correio de Marília de 21 de maio de 1958

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