Assunto do momento (28 de junho de 1958)

É inegável que a opinião pública brasileira está voltada para o jogo de futebol que amanhã (29 de junho de 1958) se desenrolará em Estocolmo e que determinará o vencedor do certame da modalidade, apontando-o como Campeão Mundial de Futeból.

Mesmo os mais indiferentes ou céticos, não deixam de ter, interiormente, um motivo de curiosidade, de interesse. De qualquer maneira, embóra no terreno do esporte profissional, está em jogo o próprio nome do Brasil, dependendo do ponto de vista do analista do páreo.

Efetivamente, jamais o selecionado nacional (com exceção do fatídico 16 de julho de 1950), foi capaz de encontrar-se tão perto dêsse ambicionado cétro máximo da Taça “Jules Rimet”.

Ninguem esperava que a seleção nacional realizasse uma campanha tão bonita nos gramados suécos, fazendo jús ao conceito de ser a melhor equipe do presente campeonato mundial. Nós mesmos, daqui desta coluna, apreciamos o fato e chegamos a perguntar, se após um período de treinamentos como o desenvolvido pré-embarque, em Poços de Caldas, após as fabulosas despesas com o selecionado, o Brasil “fizesse feio”, quais as desculpas que poderiamos dar. Abordamos tambem o fato do interesse público demonstrado pelo prefeito de Araxa, tentando conduzir para aquela estância climatérica, sem quaisquer onus para a tesouraria da CBD, toda a delegação. E perguntamos, tendo em vista a monta das despesas referidas, se o prefeito estanciário aludido teria, para com outros problemas de assistência social, a mesma disposição de realizar semelhantes gastos por conta da comuna.

Nunca abordamos, em escrito ou através de microfones, a parte técnica da seleção (o que foi feito à larga, por antecipação, por diversos cronistas das Capitais), embóra tivessemos focalizado o sistema em vigência no Brasil, dos pagamentos de luvas, “bichos” e ordenados aos “craques”.

Porisso, podemos comentar o fato agora, sem a condição de outros comentaristas, que anteciparam os mais pessimistas prognósticos sôbre as pelejas do atual campeonato e agora se vem na contingência de desdizerem o anteriormente pronunciado, para reconhecer que a equipe auri-verde vem realizando uma campanha meritória.

Mas, como diziamos, o futeból é mesmo o assunto do momento. Pequena é a porcentagem dos
b(r)asileiros que não venha acompanhando com desusado interesse o desenrolar das porfias e que não esteja p(r)eocupada com o p(r)élio de amanhã. Até mulheres, mesmo as que nada “pescam” de futeból, não deixam de transparecer, um leve, pequenino que seja, sentimento de simpatia e de esperanças.

Os jornais de São Paulo e do Rio tem noticiado, abundantemente, inúmeras passagens tragi-cômicas e curiosas sôbre o comportamento da “torcida”, a feitura de “bolos esportivos”, as apostas, etc.. Adhemar, Juscelino, Jânio, Ministros de Estado, todos, desde as mais importantes personalidades brasileiras, até o mais humilde dos mendigos, pensam de maneira idêntica com respeito ao prélio de amanhã, entre Brasil e Suécia.

No Rio, terça feira última (24 de junho de 1958), após o gol de desempate de Didi, no embate contra a França, um cidadão ficou tão eufórico, que, em plena Praça Paris, não dispondo de foguetes para comemorar o feito, sacou de seu revolver e principiou a dar tiros. Atingiu mesmo a um funcionário público, que fazendo parte da “torcida”, precisou rumar para o Hospital.

Uma senhora, de pé, durante todo o jogo, defronte ao “Cineac”, com um têrço na mão, rezava pela vitória do Brasil. E confessou posteriormente, que havia até perdido a conta de quantas vezes desfilava o têrço.

Em São Paulo, em diversas partes da cidade, ao ser anunciado o término do encontro contra a França, com a estrondosa vitória dos brasileiros por 5 a 2, verificou-se um autêntico “carnaval” de alegria.

Amanhã (29 de junho de 1958), sem dúvida, todos estarão presos aos rádios, ouvindo as transmissões esportivas, vibrando ou “suando” durante o transcorrer da peleja. Inclusive nós, é claro.

Extraído do Correio de Marília de 28 de junho de 1958

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)