A “bronca” dos “pracinhas” (19 de julho de 1958)

Existem motivos justificados referentes à “bronca” dos “pracinhas” da FEB, acêrca da manifesta e patente indiferença dos govêrnos, com alusão aos seus serviços prestados à Pátria e às recomendações tributadas atualmente aos campeões de futebol de 1958.

Que fique bem claro: os ex-combatentes nada têm contra os craques de futebol, óra detentores do título de campeões mundiais do referido esporte. A mágua dêsses rapazes fundamenta-se no descaso dos poderes governamentais, com referência ao amparo legal que aos mesmos assiste e que não foi e nem está sendo cumprido. As leis a respeito estão sendo relegadas e esquecidas, de maneira aparentemente proposital porque um testo legal não póde ser ignorado, principalmente quando invocado diretamente à um poder constituido.

Os ex-combatentes, em sua maioria, estão desamparados, doentes, desajustados. O tempo, que sempre tem sido o melhor remédio dos males humanos, não tem feito nada para atenuar os sofrimentos dessa gente, e, pelo contrário, os tem agravado. Não é necessário ser psico-analista para compreender o fato; entretanto, aqueles que são médicos e como tal tem conhecimento de psiquiatria e psicanálise, melhor do que os demais, saberão compreender que a resistência de um ser humano tem um limite e que um organismo, por mais sadio que se apresente, sófre desgastes praticamente irrecuperáveis, depois de nove meses de combate, sem sono reparador condigno, sem alimentação regular, dentro de um clima natural nervosismo e insegurança (porque ninguem tem segurança numa guerra ativa).

O Sr. Presidente da República é médico, mas não quis aperceber-se dêsse pormenor.

Para os que ainda não aquilataram bem as razões dessas “broncas”, diremos o seguinte: os “pracinhas” ao serem examinados física e psiquicamente para a integração do corpo de combatentes, passaram por uma junta médica composta de mais de 30 facultativos, dos mais competentes e renomados imagináveis. O Serviço Médico do Exército deve ter as fichas sanitárias dos mesmos; pois os que duvidam de tudo o quanto foi afirmado, que façam passar os veteranos por idêntica examinação clínica e constatem os resultados frente ao apurado médicamente na ocasião de pré-embarque. E que, mesmo assim, considerem o desgaste natural do tempo ocorrido, em relação os físicos humanos, para que deduzam, em diagnósticos sincero, quais as causas do desajuste dos “pracinhas”.

Quando os governos se esquecem daqueles que cumpriram o dever sagrado, lutando pela Pátria em terras estranhas, em cumprimento sacros(s)anto aos tratados de segurança continental, em desafronto ao covarde ataque que vitimou centenas de brasileiros e afundou pacatos navios de nossa Marinha Mercante, em águas brasileiras, para consignar excessos de gratidão aos que envés de um fuzil na mão, mostraram peripécias com uma bola nos pés, não pode existir espécie e nem admiração pela justa exteriorização de mágua, dos que se sentiram e continuam a sentir-se injustiçados.

Ademais, poderá pensar alguem, os “pracinhas” não fizeram nada mais nada menos do que sua obrigação. Eles que se danem agora.

Exatamente. Os “pracinhas” só poderiam perder as vidas (como muitos perderam). Só pagaram ao Brasil, a mais sagrada dívida que a Pátria póde exigir de seus filhos: O TRIBUTO DO SANGUE!

Extraído do Correio de Marília de 19 de julho de 1958

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