Falta de civismo (5 de julho de 1958)

Marília viveu dois dias quasi inteiro e mais de uma semana de preparativos, com respeito ao áto de exumação e trasladação dos despojos de José Vicente Ferreira, heroi mariliense do Movimento Constitucionalista de 1932.

Todas as autoridades municipais, todos os órgãos de imprensa e rádio, todos os veteranos de 32 que residem em Marília e que puderam, prestigiaram de um ou outro módo o acontecimento.

O desenrolar do fato não foi nada festivo, como jamais poderia ser. Foi uma solenidade simples, de respeito, de gratidão.

Nós, por nosso turno, demos o nosso fraco apoio ao transcorrer das solenidades e o fizemos plenos de convicção de que o áto foi nobre, porque significou um motivo de reconhecimento a uma heroi que soube, como sua própria vida, dignificar o nome de Marília, num movimento armado, embóra dentro de u’a mesma Pátria.

Não nos compéte, como pensamos que a ninguem deva interessar presentemente, analisar motivos decorrentes do acontecimento, porque na ocasião, o mesmo teve a sua razão de ser. A luta foi nobre, porque toda a contenda em defesa dos postulados de um ideal sadio, de independência e democracia, é excelsa.

Nós, particularmente, observamos o fato por um prisma algo diferente em relação a muita gente que o presenciou. Como ex-combatente (da FEB), pulsamos de satisfação em saber que ainda existem brasileiros que dispensam sob qualquer fórma, o sentimento de gratidão aos que prestaram sua colaboração armada à própria Pátria. Principalmente hoje, quando os “pracinhas” da FEB estão completamente esquecidos, apresentando uma cifra assustadora de desajustados, desempregados, alguns psicopatas, outros neuróticos e reumáticos. Nesse particular, não defendemos causa própria, porque temos nosso trabalho e dele conseguimos tirar o suficiente para viver como póbres, mas decentemente. O mesmo, infelizmente não acontece com outros.

Mas, voltemos ao assunto principal deste artiguete:

Durante as quase 20 horas em que a urna contendo o(s) despojos de Vicente Ferreira permaneceu em câmara ardente armada no plenário da edilidade, conseguimos observar que a frequência pública, embóra não tivesse sido alarmantemente ínfima, não correspondeu ao que deveria se esperar. Vimos, realmente, menor número de assistentes do que esperávamos, com exceção aos momentos que precederam e durante o transcorrer da sessão solene, levada a efeito na noite de quinta feira.

Não pretendemos dizer que desajavamos ver o recinto literalmente e ininterruptamente lotado. Mas pensamos que mais marilienses deveriam ter comparecido à Câmara, para melhor prestigiar com sua presença, êsse desenrolar.

A frequência incompleta que óra nos referimos, não deixa de denotar falta de civismo de muita gente de nossa cidade.

Ante isso, concluimos uma coisa que ninguem contestará: Tivessemos trazido para Marília o Pelé ou o Gilmar e verificariamos então, que os efetivos da 1ª. Cia. Independente da Força Pública, da Guarda Civil, da Rádio Patrulha, do Tiro de Guerra e da Polícia Mirim, seriam insuficientes, verdadeiramente “café xicrinha” para conter a multidão que afluiria onde os mesmos estivessem!

Isso é que é “patriotismo” e “amor cívico”!

Extraído do Correio de Marília de 5 de julho de 1958

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