Ainda os Contra-senso (6 de agosto de 1958)

Temos em nós, que o estrangeiro observador, vivendo no Brasil, embora não o diga, há de sentir uma certa espécie e indisfarçável incompreensão, ante muita coisa que ocorre entre nós, principalmente nesta época de pré eleições.

Sabem todos que se fala muito mal da política em nosso país. Não que a política em si seja nociva, mas como tão tradicionalmente vem sendo deturpada e mal empregada, justifica perfeitamente o pejorativismo que em tôrno da mesma gravita.

Por outro lado, os bons políticos de nosso país (tão poucos, infelizmente), tem suas ações apagadas pela maioria dos politiqueiros profissionais e contumazes.

Óra, falando-se tão desairosamente da política e dos políticos, é forçosamente passível de estranhesa, o fato de aumentar seguida e gradativamente o cordão dos candidatos a postos eletivos no Brasil. Nomes apagados, personalidades que nem sempre inspiram confiança moral em virtude de gestos ou ações pretéritas, semi-analfabetos, leigos em legislação, etc., etc., incorporam-se ao exército fabuloso daquêles que aspiram ou desfrutam incompreensivelmente, da condição de “imunidades parlamentares”.

Ao par de uma série infindável de êrros administrativos dos país, o fato de possuir o parlamento nacional algumas centenas de pseudo-legisladores, deve representar, sem sombra de dúvida, o entrave ao próprio progresso e bem estar de nossa Pátria e nossa gente.

Qualquer empregozinho público, para o padrão inicial de uma carreira, qualquer função inicial num estabelecimento bancário de renome, exige do candidato, quando não um diplomata de curso secundário, pelo menos conhecimentos equivalentes, demonstrados em prova de habilitação. Isto para um cargo de 4 ou 5 mil cruzeiros, de pouca importancia dentro do panorama de administração do país. Entretanto, qualquer semi-analfabeto, desde que tenha dinheiro para contratar cabos eleitorais, custear a campanha e comprar votos, pode ser eleito legislador, mesmo que nem saiba o significado da palavra “lei”.

Se é exigida prova de habilitação para um simples emprego de banco ou no funcionalismo público, mesmo para cargos insignificantes, não é mesmo um contra-senso dos mais flagrantes, o permitir-se que seja inscrito como candidato (votado e eleito) um leigo em legislação?

Isso, sem contar-se o caso da maioria dos deputados e senadores, que nada mais fazem do que advogar causas próprias, defendendo uns os produtores de leite, outros os usineiros de açúcar, outros os pecuaristas, etc., que eleitos pelo povo para defender êste, defendem-se a si próprios, advogando interêsses pessoais.

Deveria a lei especifica, exigir, para os casos de inscrição de candidaturas a postos eletivos, no mínimo a prova de um curso ginasial. Para sermos mais francos, em alguns casos, seria até bom que ao par dessa exigência, os candidatos fossem também obrigados a apresentar “folha corrida” da polícia!

O dia em que isto acontecer, podemos ter certeza de que o Brasil melhorará e deixará de continuar “deitado eternamente em bêrço esplêndido”...

Extraído do Correio de Marília de 6 de agosto de 1958

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