Contra-senso (5 de agosto de 1958)

Ainda está bem vivo no espírito de todo o Brasil, o éco das fantásticas festividades e empavonamento tributado pelos poderes públicos oficiais e pelo povo brasileiro, aos campeões mundiais de futebol.

Já frizamos e repetimos que jamais fomos contra as homenagens, porque nós também as achamos dignas e merecidas. Nos insurgimos, isto sim, contra os excessos que a respeito se praticaram, maxime em comparação a muitos descasos corroborados e especialmente no que tange à alguns milhares de “pracinhas” da FEB, ainda desempregados, desajustados e doentes.

Vivemos num clima irretorquível de contra-sensos e ninguém poderá nega-lo. Ou se faz absurdos, ou se procede injustiças. Não existe, regra geral, meio têrmo.

Levou-nos a tecer este comentário, fato recente ocorrido no Brasil; mais precisamente, em São Paulo.

A própria imprensa, mesmo a especializada em esporte, deixou de dar o fato que iremos referir, o devido registro. Nenhum paredro esportivo, nenhum representante das muitas federações desportivas compareceu ha poucos dias, ao aeroporto de Congonhas, para recepcionar uma delegação esportiva nacional, que de maneira idêntifica ao “onze” de futebol, soube postar-se dignamente em pistas estrangeiras, competindo com as maiores expressões mundiais da especialidade. Não apenas competindo, mas conquistando para a bandeira esportiva do Brasil, novos e honrosos louros e inclusive dois (dois, não um) campeonatos mundiais!

Tal heroísmo, que não póde jamais de ser interiorizado a conquista da Taça “Jules Rimet”, foi representando pelo ganho na Grécia, no Campeonato Mundial de Pentatlo Militar. A equipe de equitação, que não tão bem representou as tradições desportivas de nosso povo e de nossas Forças Armadas, regressou conduzindo o título maximo desse esporte. Nenhum emprego publico, nenhuma casa de 1 milhão de cruzeiros e nenhum presente foram ofertados a esses rapazes.

Dentre os disputantes desse certame mundial, figura o jovem Nilo Jaime Ferreira, que trouxe que trouxe para o Brasil (posse definitiva e não transitória como a Copa do Mundo, que poderá ir para outra nação logo em 1962), o título mundial de lançamento de granadas (distancia e precisão), além de ter batido o “record” do mundo néssa prova. Pois não é que êsse jovem e toda a brilhante equipe chegaram sem que ninguém os tivesse recebido com as devidas festas que de fato devem ser tributadas aos verdadeiros campeões?

Sabem lá como deverão estar se sentido esses desportistas, ao terem conhecimento do “carnaval” que foi realizado em nosso país, por ocasião da(s) chegadas dos campeões de futeból?

Só no Brasil mesmo é que se vê esses contra-sensos!.

Extraído do Correio de Marília de 5 de agosto de 1958

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