Prognósticos eleitorais (26 de agosto de 1958)

Como simples observadores, tivemos o ensejo de presenciar em nossa cidade, comícios onde se ouviram as palavras dos três candidatos aos Campos Elíseos – Carvalho Pinto, Adhemar de Barros e Auro Moura Andrade.

Ouvimos com interesse as alocuções de diversos candidatos a deputado e de outras pessoas especialmente empenhadas na campanha eleitoral de cada um dos nomes citados.

Procuramos, dali, tirar uma conclusão própria, conscienciosa, neutra. Ao mesmo tempo, por mistér de ofício, temos ouvido pareceres e prognósticos de muita gente de nossa cidade. Adhemaristas, Janistas e “peneiristas”. Cada qual, partidário de um candidato, tem como cérta a vitória deste, apresentando razões e tabelas elaboradas, com a convicção matemática de que dois e dois são quatro.

Em nós, temos como incógnita a eleição presente. Surpresas poderão acontecer, trazendo no final da apuração do pleito, alegrias para uns e decepções para outros. Nada do que se disser poderá ter base sólida ou fundamento indestrutível. O povo, aquele que irá decidir a sorte dos candidatos, tem uma liberdade integral e só ele determinará, em conjunto e em maioria, o novo ocupante dos Campos Elíseos e os novos inquilinos da Assembléia e da Câmara Federal.

Nenhum prognóstico tem alicerce firme. Numa comparação grotesca, o resultado das eleições é como o bebê que está para nascer. Homem ou mulher? Ninguém dispõe de meios, de cálculos, de elementos para determinar o sexo do futuro na(s)cituro. Só se saberá êsse pormenor quando o rebento vier ao mundo.

Nas eleições passadas, falharam as chamadas “prévias eleitorais”, como igualmente falharam os “sapientes” astrólogos e videntes, mesmo os mais famosos.

É bobagem o afirmar-se que fulano vencerá “estourado”, como é igualmente ingenuidade afiançar-se que beltrano será o “lanterninha”.

Como dizíamos, temos observado os comícios políticos e acompanhando as orações de muitos candidatos e pessoas interessadas, com neutralidade absoluta. Uma coisa nos chamou atenção nessa particular. Os discursos dos srs. Adhemar de Barros e Auro Andrade. Quasi todos os que falaram nessas ocasiões, não titubearam em apontar o atual govêrno como corrupto e desonesto. Procuramos prestar a atenção e verificamos que todos os que fizeram as referências em apreço, jamais apontaram as desonestidades do atual governador. Procuramos conhecê-las e não as vimos, não as sentimos.

Daí, o repetimos aquilo que já dissemos outro dia.

Os candidatos, quasi todos, estão apresentando uma falha enorme, traduzida em ausência de personalidade. Mais bonito, mais dignificante seria, o candidato provar em público sua personalidade, suas intenções, seu valor e sua competência, sobrepujando com tais atitudes os defeitos (ou imaginários defeitos) do próximo, do que, apontar falhas nos adversários, falhas essas que, nem sempre existe com fundamento.

O candidato que procede de tal maneira, isto é, espezinhando o contendor, está antes de mais nada, dando demonstração de que ele é inferior ao outro e que é algo fraco de ações e também de espírito.

Entendemos que um disputante deve provar o seu real valor antes de tentar convencer o público dos defeitos do outro. Isto é o que aceitamos como campanha democrática e sadia.

Extraído do Correio de Marília de 26 de agosto de 1958

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)