Propaganda política (9 de agosto de 1958)

Qual medicação granulada, que, dentro do cópo ao qual se lhe deita água e começa a efervescer, assim está a campanha eleitoral de nossos dias.

Começa a cidade a ser invadida por cartazes e pixamentos. Nomes que jamais vimos em nossa vida, estão agora conhecidos como verdadeiros homens amigos do interior, inteiramente devotados ao bem estar público. Verdade é que cada qual tem o direito de fazer propaganda como bem entende, pois para isso vivemos num clima euforicamente tachado de democracia. E acontece que nem todos os que assim pensam, pensam direito ou agem direito.

Os postes, muros, diversos outros locais, principiam já a apresentar aquele aspecto característicamente lastimáveis de emporcalhamento, com letreiros, cartazes e fotografias.

E o que menos vemos nesse particular, guardadas as devidas proporções, é a propaganda dos candidatos locais. Os alienígenas, mercê de gente de Marília à soldo em espécie ou traduzido em promessas de empregos, estão invadindo tudo.

Néssa invasão e corrida de pregar cartazes, está faltando o próprio respeito mútuo entre os encarregados desses serviços, de diferentes candidatos. Passa um, prega o cartaz do “seu Abóbra”; em seguida vem o outro e “lasca” o retrato do “João dos Anzois” sôbre o primeiro. Vem o terceiro, tambem com a mesma “luminosa” providência e coloca o retrato do Benedito sobre os outros dois!

Isso, sem dúvida, como sinal de respeito ao próprio municipal ou a propriedade alheia, como mostra de consideração aos direitos dos adversários, é um atestado irretorquível de serviços de verdadeira corja de irresponsáveis e desrespeitadores. Presenciamos outro dia, por méro acaso, um quase “péga” entre dois pregadores de cartazes de dois políticos diferentes (e por sinal, dois homens de fóra, dois “caçadores de votos”). Quase se engalfinharam os rapazes. Por simples curiosidade jornalística, pois o reporter, dizem, costuma sempre meter o nariz em tudo o que vê (alguns, até no que não vêm), indagamos de um desses rapazes, quanto estava ganhando por aquele serviço. Respondeu-nos que percebia 200 cruzeiros por noite para executar o referido mistér. Perguntamos ao outro o preço de seu trabalho e ele de início procurou esquivar-se à resposta. Insistimos, tal qual boi sonso, sem nos identificarmos e ficamos sabendo que o mesmo não estava ganhando nada, mas que tinha a promessa de emprego público, caso seu candidato vencesse!

Assim é que os forasteiros estão invadindo nossa cidade, tentando arrebanhar votos dos marilienses, quando nós dispomos de três candidatos locais à deputação estadual e dois a deputação federal.

O eleitor mariliense que deixar de votar em gente da terra para preferir consignar sufrágios a gente de fóra precisará mesmo apanhar com um gato morto...

Extraído do Correio de Marília de 9 de agosto de 1958

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