Será verdade? (2 de agosto de 1958)

Tipo de notícia besta. Mas foi divulgada por diversos órgãos da imprensa paulistana e carioca. Mais ou menos, isto:

Pecuaristas mineiros e capixabas, utilizaram em seus rebanhos destinados ao córte, para fins de engorda, hormônios femininos.

O fato, em si, causou espanto natural. Acontece, que, após tal processo, principiaram a circular rumores de que a carne dos bovinos tratados com hormônios femininos, vinha apresentando influências biológicas que estavam redundando em fenômenos estranhos, prejudicando em sentido direto o sexo masculino. Isto é, comentam as notícias, que muitos homens, após ingerir a carne de vaga nessas condições, principiaram a perder pêlos do rosto e falar em todo de falsete. Diversos médicos das cidades de Mantena e Colatina foram procurados por homens nessas condições, verdadeiramente alarmados.

Alguns facultativos alertaram o público, acêrca do perigo do uso de hormônios femininos para a engorda de gado. Supõem-se que êsse simples alerta tenha causado a confusão e aquilo que poderia ser chamado de “psicose de virar mulher”.

Disso tudo, resultou que as donas de casa foram proibidas pelos maridos, de adquirirem e usarem na cozinha, carne bovina e tôda a região, de acôrdo com o noticiário divulgado, está vivendo um clima de verdadeiro pânico.

Alguns moradores da região, vão até o exagero de acreditar que o consumo da carne referida poderá fazer inclusive que nasça cifres entre os consumidores!

Divulgam ainda sôbre a questão, tão grave fato de que caiu tanto o consumo da carne verde, que, uma casa especializada que abatia sessenta reses por dia, só está matando três cabeças diariamente! O uso do bife foi boicotado de tal modo, que a maioria dos açougues se viram obrigados a cerrar suas portas.

E a informação conclui:

“A verdade, porém, é esta: o gado de fato está sendo engordado com hormônios femininos, principalmente no período das secas, devido a falta de pastagens. Como a experiência deu excelentes resultados, os pecuaristas usaram e abusaram do recurso. Não esperavam, contudo, que as consequências seriam as que hoje ocorrem, isto é, o temor dos homens em consumir,carne de boi que, agora, pode ser chamada, sem medo de êrro, de carne de vaga.

“Os marchantes de Vitória, de algumas cidades mineiras e do Estado do Rio (lugares onde o gado abatido procede da região em que só fazendeiros estão empregando hormônios femininos na engorda dos bois), dizem que isso não passa de manobra dos frigoríficos, interessados em diminuir o consumo interno da carne, aumentando assim a exportação dêsse produto para o exterior.

“Os técnicos do Ministério da Agricultura procuram desfazer os boatos, enquanto os médicos estudam o problema com maiores cuidados. Ninguém, nem mesmo os técnicos e os médicos, arrisca-se, no entanto, a comer um “filet mignon”, por mais saboroso que êle possa apresentar-se. Carne, não entra em casa de ninguém, nem como remédio”.

Extraído do Correio de Marília de 2 de agosto de 1958

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