Um casamento curioso (7 de agosto de 1958)

Não existiu nada de mais, mas tornou-se curioso um casamento realizado ha dias na Matriz de Sto. Antonio, em Guaratinguetá. Curioso e inédito.

Maria Gianne, solteira, 80 anos, a noiva. Geraldo Lourenço, solteiro, 42 anos, o noivo. Ela, empregada doméstica. Ele, sapateiro.

Na hora do “conjugo vobis”, a igreja se encontrava literalmente tomada por curiosos, justificando-se a curiosidade pelo ineditismo do fato. O rapaz quiz um casamento simples; sem muitas despesas e sem muitos alardes. A mulher, como uma boa representante do sexo feminino, exigiu mais: quiz a cerimônia completa – véu, vestido de noiva, grinalda, lírios, flores de laranjeira, órgão, “marcha nupcial” e arroz crú. Depois, “lua de mél” em lugar desconhecido.

Quando o padre eficiente da cerimônia perguntou a idade de Maria, ele titubeou um pouco e declarou “30”; depois voltou atraz e declinou a verdade: 80!

A reportagem foi feita por um jornal da Capital, com algumas “pitadas” de curiosidade, o que realmente se torna plausível. Maria Gianne não se deixou impressionar pelo místico e inexorável tempo e taxativamente confessou ao reporter: “na vida não devemos nos apressar, tudo tem seu dia marcado e a sua hora certa”.

É verdade que a afirmativa acima encerra uma boa dose de fatalismo, mas poderá servir de exemplo para muita gente de nossos dias. Temos visto e conhecido uma série de insucessos matrimoniais, motivado exclusivamente pela precipitação de ambos os lados. Da mulher, principalmente.

Toda a moça, desde que seja mental e biológicamente normal, sonha, bem assim como o rapaz nas mesmas condições, com um casamento feliz e duradouro. Muitos rapazes não se casam jovens demais, por questões pecuniárias. Muitas moças não se consorciam tambem jovens em demasia, porque não encontram com quem. A moça de nossos dias, regra geral, mórbido de ficar “titia”, de passar da idade e não encontrar um casamento em tempo hábil. Daí, muitas casarem cedo e sem um tempo conforme de estudos de gênio e possibilidades frente a grande responsabilidade, e, em grande parte, os motivos de incontáveis insucessos na nova vida. Sabemos de casos em que não conseguimos atinar com as razões declaradas de “amor” e “querer bem” quando cismam de casar, mesmo que a família se oponha, com razões fortes e irrefutáveis. Muitas moças, ao transportarem a casa do quarto de século, ficam verdadeiramente desesperadas, receiosas de não mais se apresentar a “chance” para o casamento. Nesses casos, muitos conhecidíssimos mesmo aquí entre nós, a moça “agarra” o primeiro que aparecer e nem sempre a felicidade habita por muito tempo o novo lar.

A dose de fatalismo nas declarações da noiva de 80 anos aquí referida, para esses casos, poderia ser um excelente remédio.

Não, não pensem que estamos sugerindo ou insinuando que as moças devem esperar a casa dos oitenta para casar. Absolutamente. É que, conforme disse Maria Gianne, “tudo tem seu dia marcado e sua hora certa”.

Temos a certeza de uma coisa, após a leitura deste comentário: muita gente daria uma boa soma para saber qual foi o “segrêdo” de Maria, a fim de “laçar” o seu Geraldo...

Extraído do Correio de Marília de 7 de agosto de 1958

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