Atitude elevada (2 de setembro de 1958)

Fomos assistir, como convidados, dois comícios realizados domingo último (31 de agosto de 1958), pelos candidatos marilienses Guimarães Toni e Álvaro Simões. Os “meetings” referidos desenvolveram-se nos distritos de Amadeu Amaral e Avencas, com grande afluência pública.

Pensávamos, de antemão, que iríamos presenciar comícios comuns, baboseiras, conversas fiadas como tantas vezes tem acontecido nas vésperas das eleições. À êsse respeito, tivemos uma grata surpresa: vimos gente de Marília tomando contacto com as populações distritais, falando de igual para igual, desprezando adjetivos pomposos e sinônimos confusionistas; ouvimos a palavra amiga de marilienses, sem ataques, sem censuras a adversários políticos, sem promessas absurdas e impossíveis. Vimos, enfim, a palavra simples e sincera, aquela que professamos e que tanto gostamos de ouvir; a voz tocante e pura, sem verborragia inócua, sem pompas ilusórias, sem ostentação demagógica, sem cantilenas inúteis.

Jamais, em nossos escritos, nesta trincheira em que há mais de uma década participamos, pela eleição de gente de Marília, personificamos a questão. Sempre tivemos a preocupação de recomendar votos para gente de nossa cidade, sem pender preferencialmente para um ou outro candidato. E, nessas condições, assistimos com prazer os comícios referidos. Ouvimos falar o popular Tatá, os vereadores Leonel Pinto Pereira, Nasib Cury e Lourenço Senne; os bacharéis Antônio Alcalde e José Scarabôtolo e os candidatos da coligação UDN-PSP, Guimarães Toni e Álvaro Simões, respectivamente concorrentes à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal.

O que mais nos prendeu a atenção, o que de maneira mais profunda calou em nosso espírito de observadores, foi a atitude nobilíssima desenvolvida pelos senhores Álvaro Simões, Guimarães Toni e Lourenço Senne em seus discursos. Depois de historiar os motivos da necessidade da compreensão dos eleitores locais em torno dos nomes dos candidatos da coligação, legítimos candidatos de Marília, os três oradores proporcionaram aos presentes e à nossa reportagem, de modo natural e espontâneo, uma verdadeira aula de civismo, uma real demonstração de maturidade e educação política, de inconfundível amor por Marília e seu povo. É que, apregoando as qualidades reconhecidas dos candidatos referidos, todos se abstiveram de incentivar ou apelar para o espírito público, com alusão à governança estadual, tendo deixado claro a liberdade de escolha pelos eleitores, indistintamente. E foram mais além, num gesto nobilíssimo, elevado: tiveram a sinceridade de externar ao público, que, se êste, por qualquer motivo não conhecesse ou não simpatizasse com os nomes de Guimarães Toni e Álvaro Simões, preferindo votar em outras pessoas, que o fizesse, mas contanto que votasse em candidatos de Marília, que não dispensasse sufrágios à gente de fóra, principalmente aos aventureiros alienígenas(,) àqueles que só se lembram de nós e de nossa cidade em épocas que precedem as eleições.

Num tempo como êste, em que os políticos agem como os lagartos – o mais esperto procura devorar a cauda do outro –, uma atitude como a que praticaram esses cidadãos, é digna de respeito, pelo cunho elevado de patriotismo e amor por Marília que encerra, pela demonstração cabal de cultura cívica e de exemplos de sadio respeito apresentado e pelo inconfundível ideal da batalha em pról de Marília e dos marilienses.

Pensem bem os leitores, acêrca déssa atitude; reflitam a condição, a sinceridade irretorquível desses candidatos, que, pedindo votos para sí próprios, tiveram a suficiente ombridade de apelar para o público, que se este público não pretendesse votar neles, que votassem em outros candidatos desde que fossem de Marília. Isso demonstra que eles encaram com o mesmo interesse as suas próprias eleições, como vêm a vitória dos adversários políticos, desde que sejam de nossa cidade. Isso atesta que os mesmo tem amor por Marília e por nossa gente e é algo confortador, algo eivado de esperança, algo que dá a certeza de que a luta que vimos empreendendo há tempos, agora engrossada, pelas diligências e operações da União Eleitoral Mariliense, não está sendo em vão.

Portanto, justo é que finalizemos esse comentário, lembrando aos marilienses de coração, que os próprios candidatos, embóra opostamente na luta, encaram com carinho a eleição de marilienses, sem tanta preocupação em causa própria. Resta, portantos, ao povo de Marília, que interprete bem éssa belíssima atitude, que a analise com calma e frieza e perceba a enorme responsabilidade que lhe oferece o próximo pleito, para eleger gente de nossa querida terra.

Extraído do Correio de Marília de 2 de setembro de 1958

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