Explicação que nada explica (20 de setembro de 1958)

Não é segredo para ninguém e muito menos para o observador comum, que as cidades de nosso Estado, onde a Emprêsa Teatral Pedutti goza do privilégio do monopólio cinematográfico, são as mais desservidas do Brasil nêsse sentido.

Nós mesmos, desta coluna, temos procurado chamar as atenções do sr. Pedutti sôbre o fato, pois o que estamos seguidamente vendo em Marília nesse campo, chega a ser mesmo uma calamidade.

Igualmente, outras pessoas têm apresentado reclamações em penca ao responsável por êsse estado de coisas, incriminando o descaso para com o público pagante, principalmente no que diz respeito ao selecionamento das películas e aos filmes “abacaxis”, cortados e velhos.

Em face disso, distribuiu a Empresa Pedutti, em formato de panfleto, uma “Explicação Necessária”. Eis alguns tópicos:

“Sendo como é, simplesmente exibidora e não produtora, não cabe a ela a responsabilidade da má ou boa qualidade dos filmes.

“Diria então alguém “Cabe aos exibidores, selecioná-los”; mas é preciso lembrar que ao comprar uma partida de filmes tem ela de comprar o lote todo, pois não há companhia alguma que forneça esta ou aquela fita separadamente.

“Há a considerar ainda, que a crise cinematográfica é mundial, privando assim as companhias produtoras de fazerem grandes inversões de capitais, para produzirem filmes excepcionais como no passado.

“Quanto a questão dos filmes estragados, há razão para reclamações.

“Mas ainda neste caso a responsabilidade da Empresa é relativa.

“Em primeiro lugar, não é possível aos responsáveis pela programação examinarem o estado de todas as cópias dos filmes programados.

“Tem êles que se louvarem nas informações da secção de revisão das casas distribuidoras. Sempre porém que um dos seus gerentes faz uma reclamação quanto ao estado da cópia recebida, a Emprêsa Teatral Pedutti cancela essa cópia de todas as suas demais praças.

“Podem os habitués estarem certos de que, a Empresa não tem nenhum interesse em cortar ou deixar de exibir as películas completas, e luta para poder apresentar um bom espetáculo.

“Sôbre as cópias estragadas ainda há a esclarecer o seguinte: do mesmo modo que os filmes tem dificuldades para entrarem no país, também o número de cópias a ser importado sofre grandes restrições, e estão vindo cada ano em menor quantidade, criando assim sérios problemas, como o de serem aproveitados ao maximo, e com êsse aproveitamento excessivo se estragarem.

“Podem crer os seus frequentadores que, os diretores da Emprêsa Teatral Pedutti não medem esforços não medem esforços para poderem apresentar um espetáculo a altura dos seus distintos habitués e jamais olvidaram de bem cuidar de qualquer de suas casas de exibições”.

Em face disso e considerando que só com a Empresa Pedutti se verifica (como está provado) tal anomalia, resta-nos o convencimento de que o sr. Pedutti está com a razão e está sendo “injustamente” crucificado.

Quem está errado é o povo e pelo visto êste não tem razão nenhuma. O “seu” Pedutti está “certo” mesmo, vocês não acham?

O público, que paga paquidermicamente os seus ingressos, que vá “se aguentando” e engolindo as “bombas” da Empresa Teatral Pedutti!

Extraído do Correio de Marília de 20 de setembro de 1958

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