O grande tribuno (23 de setembro de 1958)

Por dever de oficio, temos acompanhado e assistido a realização de todos os comícios políticos realizados em nossa cidade, desde a época de redemocratização do país, ou seja, desde 1.945.

Em consequência, temos ouvido, como simples observadores, discursos dos mais variados e proferidos por oradores inúmeros, desde os mais medíocres até os mais dotilóquios.

Sábado último, por ocasião da realização do comício em pról da candidatura do padre Calazans, ficamos verdadeiramente encantados a oratória simplesmente maravilhosa do grande tribuno que demonstrou ser o padre Godinho, da Ordem dos Jesuítas.

O que mais nos impressionou na alocução desse sacerdote, foi aquilo que se chama “linha parlamentar”. Oração que traduziu, antes de tudo, a personalidade de quem a proferiu, num ambiente sumamente elevado e uma demonstração de um espírito atinado, sapiente, pleno de filosofia, sociologia e teologia. Discorreu o padre Godinho sôbre a questão política nacional, com uma ombridade incrível. Mesmo tendo condenado e censurado candidatos e poderes constituídos, o fez embuido dentro do normal e elogiável espírito democrático que com a graça de Deus nos bafeja, dentro de um terreno de dignidade altamente encomioso.

Demonstrou, à saciedade, pendores dotilóquios dos mais refinados e a pósse de uma lucidez e competência verdadeiramente inacreditáveis.

Poucas são as pessoas, hoje em dia, especialmente os políticos e muito principalmente nésta época de pré-eleições, onde o “vale-tudo” da difamação e descortezia é um ponto real e tentador, que consegue manter a linha, a consciência e a serenidade, dirigindo-se ao público em obediência a verdade e defeza de seus pontos de vista e idéias, sem descambar para o ridículo.

Não há muito, daquí desta coluna, dizíamos que o bom político deve assemelhar-se ao bom comerciante. Isto é, deve provar que sua mercadoria é melhor do que a de seu concorrente, sem todavia procurar demonstrar que o produto do contendor é eivado de defeitos.

Se dispuzessemos da maioria de gente que hoje milita na política, como partidária dessa preconização, por certo as coisas andariam em outro pé e o próprio eleitorado teria meios suficientes de conjecturar e formar melhor juízo acêrca dos disputantes das eleições, ficando, por sí só e naturalmente, mais capacitado a exercer de maneira mais convicta e consciente o sagrado direito do voto.

Gostamos da oração do padre Godinho, herói da última guerra mundial na qual o Brasil esteve empenhado. Padre Godinho foi um brilhante Capelão Militar da gloriosa Força Expedicionária Brasileira.

Pelas palavras que ouviram os marilienses no discurso desse homem sábado último, poderão facilmente aquilatar como teria o mesmo sido útil ao conforto espiritual dos “pracinhas” brasileiros, durante a situação angustiante porque estes passaram na última guerra.

Sem o mínimo intento de sermos gentis, exclusivamente sinceros, confessamos que gostamos e ficamos verdadeiramente maravilhados com a oratória dêsse sábio orador que é Padre Godinho.

Extraído do Correio de Marília de 23 de setembro de 1958

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