Uma realidade (24 de setembro de 1958)

Como observadores, estivemos acompanhando o desenrolar do comício de segunda-feira última, quando falou ao público local o líder vermelho sr. Luiz Carlos Prestes. Igualmente estivemos acompanhando as manifestações pró e contra exteriorizadas na ocasião.

Chamou-nos a atenção, de maneira especial, o fato de que enquanto o sr. Carlos Prestes “descia a lenha” em nossa polícia, essa mesma polícia (que) lhe garantia a palavra e mantinha a ordem pública, isolando, inclusive, os manifestantes contrário à sua doutrina política, assegurando-lhe o direito de se manifestar livremente, dizendo o que bem entendesse, censurando poderes constituídos e alardeando as suas idéias exóticas.

O comício referido movimentou todos os elementos disponíveis de nossa polícia, compreendida entre investigadores, Guarda Civil e Força Pública, incluindo-se pelotões de choque desta, que promoveram um cordão de isolamento, impedindo que os dois blocos pudessem encontrar-se e disso resultar, devido ao espírito alterado do momento, em consequências imprevisíveis. Se, por um lado, a polícia garantiu a liberdade de expressão do sr. Prestes, embora sendo atacada publicamente pelo Secretário Geral do extinto P. C. B., permitiu também que os elementos adversos ao comunismo manifestassem sua repulsa.

É necessário que seja louvada essa ação policial, cujos trabalhos foram pessoalmente dirigidos pelo delegado adjunto, dr. Francisco Severino Duarte. Não fôra o senso prático e a experiência policial comprovada, posta em prática na ocasião, por certo, poderíamos estar registrando hoje, alguns acontecimentos desairosos para a vida de nosso povo e nossa cidade.

Erram os que responsabilizam o Govêrno pela deficiência policial, porque os govêrnos são transitórios e a polícia é uma instituição do Estado. Aqueles mudam de quatro em quatro anos e esta é permanente. Desejos de govêrnos não influem em mistéres de milícia, porque êstes estão perfeitamente delineados na lei e na tradição.

Ninguém pode negar, que a polícia, sob todos os sentidos, agiu condignamente em nossa cidade, especialmente quando da ocasião do tumultuado comício do sr. Prestes. Verdade é também que o próprio povo mariliense colaborou com o policiamento, tendo, inclusive os manifestantes adversos ao líder comunista, atendido o apêlo da autoridade policial, afastando-se das imediações do Banco do Estado, para permanecerem na confluência da Rua Paes Leme, onde ficaram afastados mercê de um cordão de isolamento procedido por elementos da Fôrça Pública.

É justo, portanto, que se louve a maneira como se conduziram os elementos incumbidos dêsse policiamento que só teve o caráter de preventivo, quando poderia ser também repreensivo. Justo é que se reconheça uma ação benéfica em pról do povo e que sôbre o policiamento da cidade recai a condição de nenhum motivo termos para lamentar de maior gravidade, o que não seria de causar espécie, em virtude da exaltação de ânimos que na ocasião imperava entre diversos grupos.

A polícia cumpriu seu dever totalmente e se garantiu a manifestação contrária ao orador comunista, assegurou também a êste o direito de manifestar-se publicamente, inclusive condenando de maneira direta e estranha a atitude dessa mesma polícia.

Nossos parabéns, portanto, aos elementos de nossa milícia, de todos os sentidos, pela maneira como se conduziram.

Extraído do Correio de Marília de 24 de setembro de 1958

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