A “verve” popular (25 de setembro de 1958)

O nacional, via de regra, é prestigioso em idealizar “tiradas”, aproveitando sempre motivos circunstanciais. Vê sempre uma “deixa” para inventar uma boa piada, sôbre assunto variado, focalizando seguida e rapidamente, os acontecimentos ou pessoas de projeção ou destaque. Parece ser um dom natural. Se alguém se desse ao capricho e trabalho de coletanear as “piadas” espontânea(s) e tão ricas em humorismo natural, propicias e oportunas em face das lides focalizadas, editaria um livro incrivelmente gostoso de ser folheado.

Vimos as grandes “piadas” referentes a João Alberto, Getúlio, Góes Monteiro, Dutra, Adhemar, Jânio e muitas outras personalidades, salpicadas de gostoso “sense of houmor” e polvilhadas com uma boa “pimenta” nacional, tão habilmente difundida nas ocasiões respectivas, vimos o extraordinário e verdadeiramente recordista “estoque” de finíssimas “tiradas”, surgidas recentemente, quando da visita oficial ao Brasil, do então Presidente de Portugal, general Craveiro Lopes.

O brasileiro, que tem muito motivo para viver aborrecido, sabe de vez enquando dar mostrar de sua capacidade criadora, divertindo´se e divertindo os demais. É uma coisa natural. Não perde vasa o nacional e aproveita qualquer “dica”, para idealizar logo uma gostosa anedota, “de salão” ou não. Pensando bem, é um privilégio que a gente tem. É um ângulo do “ego” dessa gente que é u’a mescla de origens, digno de ser apreciado.

Ninguém escapa à sátira popular. Os programas cômicos das emissoras de todo o Brasil, tiram excelentes vantagens com êsse estado de coisas. Idem, os jornais humorísticos.

Com isso, o povo procura encarar com óculos imaginários de lentes cor de rosa, embora sem o saber, a própria e dura substância.

Diz o ditado que aquêle que não sabe rir não saber também viver. A êsse respeito, podemos estar certos, nós, os brasileiros, vivemos bem até demais.

O presidente Gronchi, da Itália, embora em volume infinitamente menor do que Craveiro Lopes, serviu também de modêlo para “piadinhas”, que circularam e circulam na boca do público brasileiro, de norte a sul do país.

Depois veio o “caso” da carne. Alardearam notícias bastante maldosas, que puseram a tremer muitos homens, tendo feito com que, temporariamente, baixasse o consumo do produto em quase todo o sul da nação. E, cá prá nós, “saíram” algumas de arrepiar os cabelos. O povo é assim. Brinca com tudo, com u’a naturalidade tão elogiável, que os motivos embora de aparência séria, passam para um terreno de observação brincalhona.

Por certo, muita gente conhece várias “piadas” que a respeito do assunto surgiram na cidade. Uma, entretanto, embora conhecida de muitos, deve ser contada nesta croniqueta, que fecho da afirmativa. Diz respeito ao rapaz que entrou no restaurante, falando grosso, arrotando masculinidade e pediu ao garçon: “Me traga um filé bem grande, mas passado e caprichado. Homem precisa comer carne sem acreditar em “ondas”...

Vai daí – prossegue a anedota – e depois de 30 minutos, o mesmo rapaz chama o garçon, e, com voz de falsete, cochicha ruborizado no ouvido do mesmo:

- Mocinho, onde fica a “tollete” de senhoras?

Extraído do Correio de Marília de 25 de setembro de 1958

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