Abusos e mais abusos (25 de outubro de 1958)

Não é necessário ser comunista e nem tampouco revoltado, para sentir náuseas de muitas coisas que acontecem à miude por êstes Brasís que Cabral e sua flotilha descobriram por mero acaso.

Mesmo os que se julgam e procuram ser ponderados na emissão de conceitos ou apreciação de fatos, chegam a desesperar-se e perder a transmontana, tamanho é o cáos moral e econômico que nos sombreia, prenunciando situações verdadeiramente desesperadoras.

De tudo o que é êrro e que existe no país, a política econômica ostenta lugar elevadíssimo. O descontrole é total, o desgovêrno, idem.

Mal anunciado e ensaiado o novo nível de salário mínimo e já os preços dos gêneros em geral subiram pirotécnicamente e sem encontrar barreiras de espécie alguma. Imaginem os leitores o que não sucederá na ocasião em que, de fato, tal processo chegar a vigorar oficialmente.

No Brasil, desgraçadamente, cada qual faz o que quer, porque aquí os ladrões grandes agem impunemente e cadeira só se faz mesmo para os pequenos larápios. Leite, feijão, arroz, calçados, tecidos, etc., etc., ultrapassaram já as próprias barreiras do som e deixaram muito aquém os próprios “sputniks”.

Organismos controladores e fiscalizadores de preços existem, mas realizam efeitos contrários, isto é, em detrimento do povo e em pról dos prepotentes monopolizadores e dos desbriados intermediários, essas espécies de “sangue-sugas” e ventosas da economia popular. COFAP, COAPS e COMAPS, são mães (dos “tubarões”) e madrastas (do povo).

Ninguém consegue deter a corrida altista de tudo o que é imprescindível à substância popular, porque o mal é de origem, porque o cancro está situado exatamente dentro do próprio Palácio do Catete, onde os exemplos mais vergonhosos abundam e proliferam. O atual Presidente da República mostrou ser completa nulidade em economia e demonstra, à sociedade, pendores indiscutíveis de facilidades para que muitos se acerquem do caldeirão da pouca vergonha e saciem como bem entendam vorazes apetites. A desvergonha é tão grande, e tamanha, que a única coisa que o sr. Juscelino Kubitschek fez, foi promover um progresso de 50 em 5 anos, sem entretanto ter pormenorizado os fatos a respeito dessa embusteira alegação. Efetivamente, o progresso se deu mesmo, tendo o Brasil progredido muitos em poucos anos, porém no setor da senvergonhice e da roubalheira.

O sucessor do atual govêrno é que se verá em palpos de aranha, quando assumir as rédeas da nação e principiarem a vencer os fabulosos empenhos atualmente efetivados junto aos Estados Unidos e outros países do exterior. De dois lados, presentemente, afronta-se e rouba-se o povo brasileiro: do lado particular, em que os grandes comerciantes e os desvergonhados intermediários comem e se lambuzam como bem entendem e do lado oficial(,) onde muito se arrecada e pouco se aplica em pról da coletividade em geral, supondo-se sem ser muito inteligente, que grande parte (senão a maioria) dos dinheiros públicos (o que sobra depois do pagamento do funcionalismo), inclusive a cota do malfadado confisco cambial, está sendo enterrada nesse absurdo que se chama Brasília, cuja construção, tal como vem sendo pretendida é uma verdadeira insensatez, ou está sendo facilitada aos estômagos de muitos cafajestes que se fantasiam de brasileiros patriotas.

Não existe coisa que não suba no Brasil, dia a dia, com exceção do nível da vergonha, que cada vez baixa mais.

Ninguém consegue dar um jeito moralizador na atual situação, porque ao que parece, o brasileiro é mesmo o protótipo do adágio contundente de “sombra e água fresca”.

Gritar não adianta, bem o sabemos. O erro é de cima e de lá deve partir o momento próprio para sanar ou atenuar a crise, que é, antes de tudo, uma crise de vergonha. Enquanto do alto (não dos céus, bem entendido) não surgirem tais providências, a situação permanecerá a mesma; a mesma, não: piorará dia a dia.

Certos govêrnos, COFAP, COAPS, COMAPS...

Bah!

Extraído do Correio de Marília de 25 de outubro de 1958

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