Ainda os preços das coisas (28 de outubro de 1958)

Positivamente, é estarrecedor o clima atualmente vigente no Brasil e que diz respeito à corrida altista de todos os preços de mercadorias, especialmente dos gêneros de primeira necessidade.

Problema complexo, é verdade; suas origens são múltiplas, não há negar. Entretanto, o ponto nevrálgico dessa questão, em que pese as confessas boas intenções do Govêrno Federal, está antes de mais nada, ligado diretamente à responsabilidade do Presidente da República. Verdade é que a barragem destinada a sustar essa caótica anomalia, deve ser um trabalho de equipe, mas, nem por isso, imune o Govêrno da União do maior quinhão da responsabilidade nesse campo.

Diversas são as origens dêsse estado de coisas, tão deprimente no Brasil, colocando nosso país, num índice verdadeiramente abjeto, em relação às nações do mundo, onde o custo de vida é o mais caro.

A falta de uma fiscalização eficiente, maciça, positiva e honesta de órgãos competentes, integrados por gente que não se diga apenas, mas que de fato seja patriótica, deve ser um motivo primordial para fazer com que alguma coisa das tantas que estão erradas, principie a “entrar nos eixos”. O amparo à lavoura, em especial, com um financiamento agrícola bem coordenado e sobretudo equânime, garantindo um preço mínimo ao produtor e um preço máximo ao comércio atacadista e varejista, eliminando assim, se não totalmente, pelo menos em parte, a ação malígna dos intermediários e obstando os “pulos” gigantescos e a oscilação absurda das cotações em épocas de pré-safras, safras e post-safras, com a segurança ainda de meios suficientes de transporte e escoamento, são fatores importantes para a própria economia popular, para prestígio e respeito dos govêrnos e para a própria garantia e seguridade de um Brasil próspero.

Tais fatos, jamais deixaram de figurar, como “chapinhas” fulgurantes, nas plataformas políticas de todos ou quase todos os candidatos a postos eletivos, sem jamais terem sido postos em prática em sentido objetivo e real.

Quem mais sofre as consequências dessa incrível anormalidade, são as classes pobres e média, sendo que esta já não existe praticamente, em relação às dificuldades gerais da subsistência do nacional.

A vida torna-se um martírio para a maioria dos brasileiros, que, mesmo ganhando relativamente bem hoje em dia, pouco pode desfrutar dêsses rendimentos, tamanha é a divergência entre o ganho máximo possível e as despesas mínimas inevitáveis.

Não há o que não suba diariamente de preço; arroz, feijão, tecidos, calcados, drogas e medicamentos. Tudo, tudo.

Isso até nos faz recordar, com indisfarçável espírito de “gozação”, o caso de alguns presos de uma penitenciária mineira, que, insatisfeitos com o tratamento do cárcere, resolveram fazer a “greve da fome”. Gente feliz aquela, que para passar fome precisou fazer greve, enquanto nós outros, aqui fora, passa-se fome mesmo sem necessidade de greve!

Mas, parodiando a gíria popular, ainda resta um consôlo a muita gente: “É que isto não vai ficar assim toda a vida... vai piorar muito... óra se vai”!

Extraído do Correio de Marília de 28 de outubro de 1958

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