Cessou a barulheira (1 de outubro de 1958)

A barulheira oriunda da propaganda eleitoral referente ao pleito que se ferirá depois de amanhã (3 de outubro de 1958), cessou desde a zero hora de hoje, na forma de preceituação da Lei Eleitoral.

Continuará até o dia 3, ainda, a propaganda escrita.

A cidade tomou ares diferentes, do azáfama dos últimos tempos. Silenciosa. Voltou à normalidade nesse particular.

De todos os discursos ouvidos, das promessas e das demagogias, dos motivos externados com sinceridade, de ataques pessoais, defesas de grupos, insinuações e oratórias desenfreadas, algumas ridículas até pelo teor elevadíssimo da paixão, está agora o eleitor mariliense em condições de recolher-se e meditar conscientemente, formando e firmando seu ponto de vista, para cumprir, daqui já dois dias, o sagrado dever do voto.

Repousam os alto-falantes volantes; descansam igualmente as trombetas dos amplificadores instalados nas sedes dos diretórios políticos. Tudo é silêncio nesse particular.

Muita gente está dando graças a Deus, pelo fato de ter prescrito o prazo fatal do encerramento das citadas atividades. O fato é que o sossego é outro e a barulheira fôra tanta nos últimos dias que a gente até está estranhando agora nos primeiros momentos.

Não existem, todavia, motivos para alegria. Vai se ver que continuadamente, os alto-falantes publicitários estarão gritando pelas ruas novamente, “preços baixos” de casas comerciais.

Tudo isso é sinal dos tempos, do dinamismo de nossa éra, da luta e da correria de nossos homens. Pensando bem, as eleições movimentam as cidades, dão um colorido e uma ondulação especial às “urbes”.

Vimos nos últimos dias, a prova disso. Entusiasmo, discussões, pontos de vista, “torcida”, e até apostas em vitórias dêste ou daquele candidato.

São coisas do modernismo, coisas da vida. São vibrações normais da éra. Pensando bem, sem essas coisas, a vida não teria graça. Andam tão difíceis as coisas hoje em dia, tantas são as atribulações do povo brasileiro, que essas mudanças do rítmo dos acontecimentos fazem bem a todo o mundo, pelo aspecto diferente que encerram. Ninguém foi capaz de queixar-se, nos últimos dias, por falta de assuntos para uma conversinha, um regular “bate papo”. Nos bares, na rua, mesmo nas residências, entre amigos ou parentes e até entre estranhos, sempre houve um motivo para vir à baila o andamento da campanha eleitoral. Alguns, por curiosidade e dever de ofício, como nós; outros, porque pulsam de fato com as ocorrências políticas; outros, por simpatia com certos candidatos; os mais céticos, apenas conscientes da obrigação de votar; o exato mesmo é que todos, de maior ou de menor maneira, partilharam também dêsse movimento extraordinário e que boliu com os nevos do povo, revolucionando as idéias e os pensamentos de tôda a gente.

A barulheira dos alto-falantes, entretanto, está superada, graças a Deus! Dois dias nos separam do prazo fatal para a decisão do pleito, quando surgirão alegrias para uns e decepções para outros. Coisas da vida. Eleições são assim mesmo.

Extraído do Correio de Marília de 1 de setembro de 1958

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)