A vontade popular é soberana (8 de outubro de 1958)

Virtualmente, estão eleitos os dirigentes e colaboradores do novo govêrno de São Paulo. O resultado das urnas, embóra não terminado oficialmente, correspondeu aos desejos da maioria e constituiu-se, sem dúvida, em motivo de decepção para os partidários do candidato Adhemar de Barros.

Nós que não temos bandeira política e que dentro das observações naturais, em nossa missão na imprensa sempre fomos neutros em nossas análises, poderemos falar de cátedra a respeito dessa autêntica reviravolta de idéias. A vontade popular é soberana e como tal deve ser respeitada. Cumpre agora ao povo em geral, quer os que esperavam a vitória do atual prefeito de São Paulo, quer os carvalhistas ou mesmo os auristas, o prestigio aos que serão dentro em breve declarados eleitos pelo voto da maioria dos eleitores do nosso Estado.

O pleito de sexta-feira passada, acarretou logicamente a preocupação e a certeza de que estamos progredindo no campo da liberdade de escolha de nossos dirigentes. A votação expressiva conquistada pelo Sr. Carvalho Pinto, que, a par de suas qualidades administrativas já comprovadas, traduziu uma esperança para milhares de bandeirantes, não deixa de ser o reflexo de um govêrno e de um homem, o Sr. Jânio Quadros. Notamos nas marchas e contra-marchar da campanha eleitoral, especialmente quando estas descambaram para o terreno do ridículo, em ataques pessoais de ambas as partes, que o nome do Sr. Carvalho Pinto foi o menos atacado, uma vez que as investidas foram dirigidas mais diretamente contra o atual governador de São Paulo.

Por outro lado, provou o transcurso da votação, que o eleitor hoje já está mais esclarecido, sufragando homens e idéias e desprezando legendas. Prova disso, foi a preferência manifestada pelo candidato de Jânio para governador, pelo indicado por Adhemar para vice-governador e pelo nome do padre Calazans para senador.

Significa o transcorrer do pleito de 3 último, u’a mutação sem precedentes na história política de nosso Estado, cujos resultados são merecedores de uma apreciação acurada pelos observadores e dirigentes políticos de nosso país. Chega a ser um prenúncio de u’a metamorfose total e radical na própria base alicerçal da conjuntura política contemporânea, dando mesmo a idéia nítida de que a política brasileira já principia a abandonar seu multiforme sistema de conjunto esdrúxulo, composto de incontáveis partidos, para firmar-se nos moldes do ponto de vista político dominante hoje na Inglaterra, com pouquíssimos partidos majoritários e decisivos. Do jeito que as coisas estão se manifestando, os pequenos partidos tendem a desaparecer, pela inutilidade que representam dentro do próprio cenário político da nação.

O constituir-se um partido político do dia para a noite, com a elaboração de um estatuto, que, em primeira análise, nada mais é do que uma cópia alterada de outro já existente, significa um grande atrazo de nossa gente, traduzindo, antes de mais nada, uma pretensão indisfarçável de dois ou três políticos egoístas.

O sr. Hugo Borghi, por exemplo, é o recordista em “fabricar” partidos políticos no Brasil, isto para melhor ilustrarmos este ponto de vista.

Não há dúvidas que da maneira que as coisas caminham, provado
esta que o eleitorado não está disposto a cingir-se a cabresto de partidos, procurando prestigiar tão somente homens e idéias. Isso(,) entendemos, é o sinal inconfundível de que já estamos conquistando aquilo que se poderá chamar de maturidade política.

É a prova irretorquível de que a vontade popular é soberana.

Extraído do Correio de Marília de 8 de outubro de 1958

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