Mais telefones para Marília (26 de novembro de 1958)

Êste jornal em especial e esta coluna em particular, sempre debateram a questão da insuficiência de telefones em Marília, maximé nos últimos tempos, quando o vertiginoso progresso ultrapassou as expectativas mais otimistas, dos marilienses e dos observadores forasteiros.

Efetivamente, nossa cidade, pelo vulto de seu progresso, pelo calor de seu dinamismo, pela voragem de sua expansão em todos os sentidos, reclama, de há muito, melhor serviço telefônico, não no sentido técnico propriamente dito, porém sob o ângulo de arraigamento.

No ano passado, ao conhecermos o plano da Companhia Telefônica Brasileira, no sentido de aumentar o número de telefones na cidade, manifestamos nossos aplausos pela intenção, cumulados de nossos protestos pelo modo com que se pretendeu realizar a idéia. Discordamos dos planos da CTB, porque os entendemos prejudiciais e contrários aos interêsses dos marilienses. Buscamos elementos justificativos e os encontramos na cidade de Araraquara, onde o contrato fôra firmado em condições mais favoráveis do que as pretendidas em Marília, em ocasião semelhante. Prometemos mesmo a divulgação da minuto do contrato assinado na Capital da Alta Araraquarense e não o fizemos por motivos alheios à nossa vontade.

Um ano após, reavivar-se o problema. Estiveram há pouco reunidos, justamente com o sr. Prefeito e pessoas gradas de Marília, dirigentes da mencionada Companhia. O assunto foi o mesmo, o processo foi o mesmo, com a modificação do sistema de concretização, em cujo esboço a Prefeitura, sob a condição de proprietária percentual, teria responsabilidade enorme, sem meios de fiscalização direta, sem técnicos competentes, sem departamentos especializados, ficando dona sem capital, dum dinheiro público respeitável. A municipalidade, no caso, poderia fazer uso de uma faca de dois gumes: ser proprietária sem dinheiro e obter, conforme o caso, lucros à custa do próprio povo necessitado. Isso sucedendo, tudo acabaria bem; o contrário acontecendo, surgiria fatalmente um dilema de proporções inesperadas: a Prefeitura poderia responder diretamente pelas responsabilidades, por não ser, à rigor, proprietária, por ser administradora; a Companhia poderia facilmente “descalçar as botas”, alegando sua administração apenas, como participante à base de percentagem.

Existem outros fatores mais graves ainda. No ano passado, cogitou-se o preço do aparelho telefônico na base de 22 mil cruzeiros, amortizáveis em prestações, para ligação após o pagamento, com a condição de variações aceitáveis em caso de mutações oficiais de câmbio. E, pelo plano anterior, os aparelhos só seriam instalados após pagos, ou seja, após um ano da vigência do contrato que não foi assinado.

Agora a cotação subiu para cêrca de 33 mil cruzeiros, havendo a possibilidade de atingir mesmo 40 mil e ninguém garantindo a sua instalação imediata ou dentro de curto prazo.

Se a CTB sempre serviu o povo sem a consumação de programa semelhante, estranhável é, por todos os sentidos, a pretensão óra cogitada.

Não estivemos, por motivo de força maior, presentes à última reunião à respeito realizada, da qual participaram o sr. Prefeito, vereadores, dirigentes da Telefônica e outras pessoas gradas. Procuramos nos inteirar do resultado da assembléia e confessamos que não apreciamos o que sentimos, porque consideramos prejudicial aos marilienses a pretensão da CTB.

Se isso vier a ser efetivado, podem estar certos os nossos amigos que a situação continuará a mesma e daqui há 5 anos, um telefone custará por volta de 100 mil cruzeiros, o que representará, não um comércio, mas verdadeiro absurdo!

Se a CTB, de acordo com a lei e a assinatura do contrato legal não cobra nada por um telefone no momento (embora a “fila” seja grande, grande seja a esperança e pequena a possibilidade de conseguí-lo), não sabemos porque, no futuro, se vigorar o absurdo projeto óra em referência, que um cidadão há de comprar um aparelho por 30 e tantos contos, se a Companhia o cederá gratuitamente, desde que haja número desocupado e principalmente se o interessado puder usar o privilégio da “prioridade” legal. Resumindo: se o desta coluna tiver que vender o seu telefone, comprado por 33 mil cruzeiros no novo plano, à você, leitor; e se você tiver a chance de obtê-lo sem ônus (apenas as taxas de ligação e instalação), perguntamos a você se você dispensaria a condição legal de obtenção e iria comprar o outro.

Ademais, é um absurdo, processo oneroso o que se pretende fazer agora, na questão dos telefones em Marília.

O sistema que a CTB pretende realizar é bom, em causa própria. Pelo processo referido, o autor desta coluna é capaz de comprar a Fazenda do Montolar, a Fazenda Bonfim e muita “cosita más”. Se vocês duvidam: “entrem” antecipadamente com a “gaita”. Depois vocês ficarão como “sócios” e terá lucros... Mas não se esqueçam: A partir de leão já terá dono...

Extraído do Correio de Marília de 26 de novembro de 1958

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