O Divórcio (27 de novembro de 1958)

Por mais de uma vez, foi feita no Brasil a tentativa da instituição do divórcio entre nós. Por mais uma vez também, frustrada foi a idéia, que movimentou inúmeros intelectuais e estudiosos, com o acarretamento de discussões, polêmicas e apreciações sôbre âugulos diversos.

O problema é complexo, dizem.

Encontramos em nossa redação, correspondência dirigida ao autor desta coluna, solicitando nosso pensamento a respeito. Certo é que a carta veio com endereço errado, pois seríamos nós os menos capazes de emitir uma opinião segura sôbre tão arrebatadora questão.

Não nos furtaremos, entretanto, em atender o pedido. Exato seja, representará uma opinião puramente pessoal, de competência lógica de qualquer cidadão. Como dissemos, o assunto jamais nos apaixonou de fato. Sempre ficamos à sua margem, como expectadores dos mais neutros possíveis.

Isso não nos impede, entretanto, de formarmos um juízo próprio, de conformidade com nossa própria razão.

Em princípio, somos anti-divorcistas, por convicção religiosa. Entendemos o divórcio, não como um remédio preconizado para sanar o mal do imoral desquite, mais como uma agravante ainda pior. Concebemos o divórcio, como uma prostituição oficializada, porque facilita aos que desejam, possuírem gradativamente, quantas mulheres ou homens pretenderem.

Alegam os que são partidários dêsse processo, que o desquite faz no país mais divórcios do que na própria Inglaterra. Acontece que no Brasil o desquite significa um freio. Os que alegam que o desquite é um convite ao cumcubinato não estão certos, porque as citadas relações existem de maneira assustadora hoje em dia, até entre solteiros!

País divorcista apresenta condições piores do que a separação desquital. No desquite o separado não pode casar-se novamente, enquanto as duas partes viverem; portanto o vínculo matrimonial, perante a Lei, continua a ser respeitado, queiram ou não os que se sentem prejudicados. O desquitado tem um freio nêsse particular e ações correlatas, dizentes a aproximação de corpos de sexos diferentes não encontram apoio em Lei. Já com o divórcio é diferente. Vemos o degradante fato de mulheres que se casaram e divorciaram diversas vezes, possuir filhos oficialmente de três ou mais homens e não sabemos como o espírito do brasileiro poderia aceitar semelhante situação.

Não sabemos como o nacional aceitaria a condição de possuir no futuro alguns irmãos, filhos de pais ou mães diversas.

Poderá algum contra-argumentar que pelo menos no país divorcista, os filhos têm os nomes dos pais. Acontece que aqui também, embora com a condição de “naturais” e a êsse respeito, já se movimentaram legisladores, tentando anular essa disposição, para que sôbre os ombros daquêles que assim nascem, não tenham, no futuro, pejo perante a sociedade, vergonha por um crime em que êles são inconscientemente as vítimas diretas, muitas vezes encarnecidas pela sociedade.

Perguntamos agora ao nosso leitor e missivista, numa comparação grosseira: Se você, amigo, tivesse duas irmãs, uma casada nos Estados Unidos e uma no Brasil; se a que aqui residisse, por motivo qualquer, viesse a desquitar-se e ficasse, por isso mesmo, impossibilitada de casar-se novamente; se a que residisse nos USA, tivesse casado e divorciado três vezes e disso lhe apresentasse três sobrinhos de três diferentes cunhados; perguntamos então a você, para que nos responda, não baseado em argumentações dos que falam bonito sôbre a questão, mas para que nos informe com a sua própria consciência: qual das suas duas irmãs lhe seria mais desditosa? A que estava impossibilitada de casar-se ou a outra, a que poderia casar-se quantas vezes entendesse e ter filhos de quantos homens desposasse?

Mais uma outra coisa ainda: Como o espírito próprio do brasileiro, o divórcio no Brasil seria um verdadeiro cáos moral. Você já imaginou êsses magnatas, êsses brasileiros ricaços e esbanjadores, êsses mesmos que sentem até vergonha de apresentar as esposas em público, quanto tempo permaneceriam casados? Quantas vezes se casariam, mesmo que o divórcio custasse caro?

Extraído do Correio de Marília de 27 de novembro de 1958

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