Brinquedos para as crianças pobres (5 de dezembro de 1958)

Aproxima-se o Natal, data máxima da Cristandade. Ao par das festividades naturais e tradicionais do grande dia, comum é o premiar-se as crianças com brinquedos. O costume generalizou-se e não há criança que não alimente uma esperança, por mais leve que seja, de ser aquinhoada com um presentinho qualquer.

Pais de família, mesmo pobre, realizam esforços por vezes ingentes e sacrificiosos, para fazer com que seus filhos não fiquem em condições de inferioridade ante os filhos dos vizinhos, para que não cresçam com complexos ou para que não apresentem recalques ou afetações. É natural, pois, tal sacrifício dos pais de família.

Entretanto, muitas crianças não poderão ser beneficiadas com essas providências. Principalmente as órfãs ou desamparadas.

Com respeito a êsse fato, êste diário inicia hoje, fundamentada na compreensão do público mariliense, uma campanha de aparência que poderá até ser interpretada como pueril, mas que não significará oneração para ninguém e que tem por objetivo único, oferecer brinquedos aos meninos da Filantrópica e às meninas do Lar das Crianças.

Como dissemos, trata-se de uma campanha que não acarretará dispensa de dinheiro aos seus colaboradores, aos marilienses que da mesma quiserem acercar-se. Consiste no seguinte:

Todas as crianças que possuam em suas casas, brinquedos já considerados velhos (bonecas, carrinhos, etc.), e que deverão receber, no próximo Natal, à exemplo dos anos anteriores, a visita de Papai Noel, que nos dispensem os objetos em desuso (ou que serão substituídos), para que possamos nós, em nome da própria petizada mariliense, distribuí-los aos meninos que se abrigam na Associação Filantrópica e às meninas que são amparadas pelo Lar da Criança.

Como vêem, fácil será colaborar nessa campanha. Dificilmente haverá um lar onde existam crianças, que não se encontre um brinquedo velho, porém prestável. Pequeno será o sacrifício de desfazer-se de um objeto nessas condições, em favor daquêles que não teriam outras chances de conseguir também um presentezinho próprio de sua idade e próprio de tão majestosa data como o Dia de Natal.

Portanto, nosso apêlo aos garotos marilienses, às meninas de Marília, para que nos tragam seus brinquedos velhos a fim de que nós o entreguemos àquêles que não podem comprar brinquedos novos. E que venham os próprios meninos e meninas até nossa redação, dando-nos o nome e endereço, para que possamos oferecer, em seus próprios nomes, os brinquedos aos órfãozinhos de nossa cidade. Não haverá nenhum motivo de vergonha, em oferecer-se um brinquedo usado a um menino ou menina que foi marcado pela desdita de não ter um lar com o calor materno e paterno; pelo contrário, haverá neste gesto, um mundo de compreensão, de amor ao próximo, de solidariedade.

É um meio fácil de remediar-se uma situação de aparência ínfima, mas que apresenta grandiosidade problemática, especialmente para os dirigentes das duas instituições referidas. Por outro lado, alegres ficarão os que receberem, da criançada mariliense, um presentinho amigo, embora usado, desde que se encontre ainda em estado aproveitável.

Lembramos aos meninos e meninas marilienses que quiserem colaborar conosco nessa campanha, que os brinquedos embora usados, deverão estar em condições utilizáveis, pois não disporemos de meios ou tempo para reconstituir brinquedos inutilizados.

Ao lançarmos êsse primeiro apêlo aos marilienses, dirigido em especial aos meninos e meninas de Marília, certos estamos de que a criançada de nossa cidade saberá, assim como os adultos, compreender e cerrar fileiras em tôrno dêsse encarecimento.

Garotos, garotas, tragam portanto à redação do “Correio de Marília”, os brinquedos usados (dos anos passados), para que êles que já alegraram a vocês, possam ainda alegrar os coraçõeszinhos de mais de duas centenas de outras crianças, que se encontram sob os tetos do Lar da Criança e da Filantrópica.

Vocês vão colaborar?

Extraído do Correio de Marília de 5 de dezembro de 1958

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