O cruciante problema nacional (17 de janeiro de 1959)

Não há negar que é das mais calamitosas no Brasil, a questão dos preços dos gêneros e utilidades de primeira necessidade.

Clamam-se providencias capazes de colocar um dique, ao descontrôle e desgoverno existentes nesse setor, inutilmente. As medidas preconizadas pelos govêrnos ou sugeridas e anunciadas em práticas por organismos responsáveis pelo contrôle e fiscalização dêsse ângulo, jamais conseguiram atingir objetivos que viessem, de fato, ao encontro dos interêsses das populações menos favorecidas. Por outro lado, espírito insaciáveis de certo número de comerciantes e intermediários, colocam em polvorosa a própria segurança da subsistência dos nacionais.

Isso nos acarreta a pejorativa classificação, de sermos um povo que apresenta a condição de uma das nações de vida mais cara na face da terra, apesar de habitarmos um dos maiores e mais ricos países do mundo!

Quais, seriam, então, as causas dêsse objeto fenômeno?

Certamente que a inexistência de um método de planificação e a ausência absoluta de uma fixação de preços, que se fundamente, antes de mais nada, na garantia do preço mínimo ao produtor e no tabelamento do preço máximo para o revendedor (atacadista e varejista), seria u’a medida de primeira grandeza no caso. Isto é, a elaboração de um estudo estatístico completo e perfeito, fixando o preço mínimo a ser pago ao homem que produz, delimitando o lucro do intermediário ou atacadista e fixando também o lucro normal do revendedor, poderia dar resultados. E, ao mesmo tempo, impediria as ascensões fabulosas de certos comerciantes, que enriquecem do dia para a noite, em flagrante contraste com outras pessoas estabelecidas, que, só apresentam pequenas progressões comerciais e financeiras, após muitos e muitos anos de árduas lutas profissionais.

Essa medida, entretanto, é inviável no Brasil. Pelo menos, com o atual Govêrno da República, nosso Presidente Viajante.

Para que a idéia mencionada (que nos parece ser a mais acertada, senão a única) pudesse vingar, urgiria, antes de mais nada, que ao par da fixação do preço mínimo ao produtor, se desse a êste os meios necessários e o amparo carecido para o seu trabalho, com o financiamento mais racional e melhor coordenado, com o fornecimento de sementes especiais por preços ínfimos, com a facilidade de aquisição de adubos e inseticidas por preços baixos e com a melhoria das estradas e consequente barateamento dos transportes.

Tais coisas não se verificam no país. O lavrador adquire as sementes, muitas vezes por preços superiores ao próprio produto vendido na safra anterior. O transporte representa um fantasma, a encarecer o produto. Os preços são ditados pelos potentados, baixando de cotação justo na ocasião em que o lavrador precisa dispor de suas safras, para serem armazenados desbriadamente, com a compulsória providência de forçar a alta de custo de vida. Depois, entra o jogo conhecido da retenção de estoques, do comércio desvirtuado, transportando-se mercadorias de uns para outros centros, encarecendo-as ainda mais e dando margens a que outras pessoas venha a participar da manobra, ganhando as suas partes e elevando o custo do produto, de maneira que quando o mesmo chega a ser adquirido pelo povo, no armazém varejista, a diferença existente entre o preço pago pelo consumidor e o custo do produto na fonte de produção, chega a ser, algumas vezes, de até três e quatro vezes a maior!

Parece que nesse particular, na América do Sul, nós só podemos nos equiparar à Bolívia e no Paraguai. E mesmo assim, constituindo nosso país, nesse sentido, um “páreo duro”.

Essas, entendemos, são as mais fortes razões para justificar a alta do custo de vida no país. Existe também o fato da característica má administração do comércio e indústria em geral e o desvio de ágios necessários à própria economia interna do país, para a importação de produtos que abundam em nossa Pátria, terra onde feijão e arroz nascem até em vãos dos paralelepípedos das ruas, quando a Limpeza Pública atraza suas operações!

Não há negar, pois, ante isso e ante a realidade que estamos vivendo e que ninguém poderá contestar, que os fatos acima apontados são as principais causas do cáos moral e econômico que nos sufoca e nos aterroriza presentemente. Em resumo, é inquestionável também, que de tudo isso só se pode deduzir uma causa-origem: desgovêrno!

Extraído do Correio de Marília de 17 de janeiro de 1959

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)