O satélite brasileiro (1 de janeiro de 1959)

Ultimamente, na Escola Técnica do Exército, os preparativos para o lançamento do satélite brasileiro que tentará atingir a ionosféra.

Trata-se do foguete que foi batisado com o nome de “Felix I”, nome inspirado no próprio gatinho amarelo que servirá de tripulante e que viajará na ogiva do mencionado engenho.

O aparelho citado, custou aproximadamente 300 mil cruzeiros e os técnicos militares afiançam a certeza de êxito total no seu lançamento, com o atingimento do percurso e tempo previamente elaborado.

O assunto, em sí, representa um passo bastante avantajado na éra eletrônica e na conquista do espaço. Se conseguir o pretendido êxito, justo é que se reconheça que nosso país, apesar dos pesares, esforça-se por progredir e acompanhar as pegadas das mais avançadas nações de todo o mundo. Se não conquistar os resultados esperados, nenhum motivo de desdouro haverá para os cientistas nacionais, pois nem tudo o que se pretende realizar, é feito, com vitória total, na primeira tentativa. O exemplo a respeito nos deram os próprios Estados Unidos, com a repetição de fracassos em igual sentido, mas com a ombridade suficiente para confessar ao próprio mundo, os insucessos referidos.

O que é mister, no caso do “Felix I”, é que o próprio govêrno ampare melhor êsse sentido, pois de acôrdo com a reportagem a respeito, outros inventos serão tentados, “se as condições financeiras referente às verbas próprias e especiais assim o permitirem”!

Todo o prestígio deve ser consignado aos cientistas que tão denodadamente estão trabalhando nesse mistér, sob a direção do coronél Lage, da Escola Técnica do Exército.

O “Felix I”, cuja fotografia ilustra uma reportagem pela revista “O Cruzeiro” da semana em curso, foi completamente realizado dentro das paredes da E. T. E., com material inteiramente nacional e sem a utilização de nenhuma pela emprestada ou copiada dos Estados Unidos ou da própria Rússia. Isso, se atentarmos para o lado do sentimento de brasilidade, é um motivo de integral satisfação para todos nós. Traduz a confiança naquele órgão técnico do Exército e afirma o conceito e a certeza de que nem tudo está perdido no Brasil e que nem tudo é pusilanimidade.

Mister se faz, como acima afiançamos, que o próprio Govêrno e os responsáveis pela legislação brasileira, bem como os que tem sobre si a incumbência da distribuição e aplicação das verbas públicas, voltem com mais frequência e com maior interêsse suas vistas para o fato em apreço, merecedor de toda a simpatia e de todo o apoio possível.

Daqui uns dias, deverá subir aos céus, o “Felix I”, lançado na ionosfera um satélite artificial e testando a capacidade de um ser animal sair com vida de uma grande empreitada.

Nossos votos, para que tudo dê certo.

Extraído do Correio de Marília de 1 de janeiro de 1959

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