Uma Faculdade pouco prestigiada (28 de janeiro de 1959)

Não se trata, em verdade, do prestígio oficial, do prestígio público. Trata-se, isso sim, do pouco prestígio por parte daqueles que mais do ninguém, em maior número, deveriam acercar-se dessa escola, para alí haurir as luzes da ciência.

O resultado de lutas de mais de uma década, surgiu agora, mercê do despreendimento do próprio povo mariliense, através de seus poderes constituídos, sua classe estudantil, sua imprensa e seu rádio e suas entidades representativas. E, sobretudo, graças ao espírito administrativo do Governador Jânio Quadros.

Temos, portanto, a nossa Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Mas, pelo que estamos informados, a mocidade em condições de afluir ao citado núcleo do saber, não está correspondendo plenamente. O prazo das matrículas para o curso vestibular, foi dilatado e prolonga-se-á até o próximo dia 5 de fevereiro, como u’a medida de maiores facilidades para os interessados.

Verdade é que a inauguração, abertura de inscrições e prazo determinado para início das aulas foram simultâneos. Mas, pelo que estamos inteirados, o número dos candidatos, especialmente os chamados “da terra”, está sendo apresentado como muito aquém daquilo que seria de esperar.

É urgente que o interesse seja despertado num índice maior e mais positivo, desde o início. Estudantes de outros centros, correram logo para Marília, em busca de nossa Faculdade, numa demonstração de que melhor do que nós próprios, souberam apreciar a importância dessa grandiosa óbra, realização magnífica do ensino superior.

Alí não se cingirão os ensinamentos, unicamente ao fato da preparação de mestres do ensino secundário; se bem que éssa seja uma das finalidades destacáveis da escola, formação de cientistas e pesquisadores é também função precípua e especifica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

E é pena, que muitos jovens, em idade e condições da realização desses cursos, tendo a facilidade de possuir esse núcleo aquí mesmo entre nós, descure tanto dessa vantagem, dessa oportunidade pela qual tanto lutamos e com a qual outros milhares de jovens sonham, estando impedidos, por motivos vários, da efetivação dêsse ideal.

Ficamos verdadeiramente espantados, quando a professôra Jô nos afiançava, ainda há pouco, que o número das inscrições até agora, não estava correspondendo ao objetivo colimado.

De fato, é incrível mesmo, que isto venha se registrando até aquí. A rigor, é inexplicável a existência desse fenômeno, pois antes da concretização desse antigo ideal, tínhamos interessados e candidatos em profusão. Certa feita, fizemos parte de uma caravana de sessenta estudantes de ginásio e cursos científicos e clássico (30 moços e 30 moças), que rumou para São Paulo, onde foi reivindicar, de viva voz, ao então Governador Lucas Garcez, a criação da Faculdade. E nos recordamos muito bem, quando o então Chefe do Executivo bandeirante, demonstrando satisfação pela visita, dissera, mais ou menos, as seguintes palavras: “Feliz a cidade, cujos filhos empreendem uma das mais justas lutas, que a luta pela criação de novas escolas. O exemplo destes jovens é digno de admiração e das atenções de meu Govêrno”.

E, na ocasião, todos os estudantes que integravam a caravana referida, afirmavam categoricamente, os desejos irrefutáveis de sentarem um dia, nos acolhedores bancos da Faculdade que seria criada em Marília e que hoje é essa realidade palpável que todos conhecemos.

Lembramos ainda, que, tendo um enviado da Reitoria da Universidade de São Paulo, aquí vindo certa ocasião, com o objetivo de “sondar o terreno” e oferecer relatório consubstanciado sôbre as possibilidades e comportamento da instalação do curso pleiteado, teria apresentado à U.S.P. um subsídio contrário à criação da Faculdade de Filosofia, por motivos estranháveis para nós. E nos recordamos perfeitamente, os efeitos que causara no seio estudantil, a notícia dessa versão. Quasi Marília se levantou em “pé de guerra” pelo fato, numa demonstração de desagrado pelo acontecido e numa hipoteca insofismável de que queria, de fato, a Faculdade de Filosofia e por ela lutaria com todas as suas forças.

Efetivamente, Marília lutou com todas as suas forças. Lutou e venceu. E venceu bonito.

Agora, depois de vencer bonito, está fazendo feio, no que concerce a pouca preferência demonstrada, com respeito ao ingresso em nossa escola oficial superior.

Está, portanto, sendo pouco prestigiada a Faculdade de Filosofia. Não pelos poderes constituídos, não pelo povo, repetimos; por aqueles que, em menor número, deveriam afluir àquele centro do saber!

Extraído do Correio de Marília de 28 de janeiro de 1959

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