Cada louco com sua mania (10 de fevereiro de 1959)

É inegável, que todo o homem, depois de viver trinta anos, está naturalmente em condições de dizer-se conhecedor da vida, dos homens e das coisas.

Embora sem nenhuma identificação de “globe trotter”, todo cidadão que nasceu do trabalho e do trabalho vive, teve, por força de circunstâncias, que servir de receptáculo a uma série de marchas e contra-marchas, que redundaram-lhe, compulsoriamente, no porte de uma bagagem de experiências indeléveis e inapagáveis.

Porisso, comum é o encontrar-se cidadãos afirmar que jamais teriam casado, se tivessem a experiência de hoje. Ou que gostariam de retroceder à idade de 15 anos.

Essa experiência, acarretou nos indivíduos, especialmente nos bem moldados de espírito, uma atitude diversa em alguns pontos, porém firme como o aço em outras situações. Obrigou o homem a observar melhor o caminho da vida, forçou-o a lobrigar o futuro com uma preocupação ferrenha e perfeitamente justificável, tendo-o colocado, em dois prismas distintos: Ou tornou-se manhoso como a raposa, ou constitui-se numa demonstração inconteste de previdência e cuidados.

Dissemos linhas acima, que isso ocorre aos homens de espírito maldoso. Portanto, existem excessões diversas, que ficam fora das cogitações deste escrito.

Mas o homem, depois dos trinta anos, dá-se ao emprego de manias. Talvez sem perceber. Até a citada idade, seus pensamentos e predileções são bastante variáveis. Depois é que a firmam e fundem de modo mais categórico, mais solido.

Então surgem as chamadas manias. Manias que não são bem manias, pois são uma decorrência natural de uma vida. Referimo-nos ao jogo, aos esportes, à bebida e a outros hábitos. Fazemos a comparação, em tese, excluindo de cogitação os casos de manias crônicas ou vícios incorrigíveis e prejudiciais sob qualquer aspecto analítico.

Daí o observar-se o homem que, mesmo nada tendo o que fazer, passe o dia todo no banco do jardim, “batendo papo” com todo o mundo, sem nenhum proveito, sem nenhuma vantagem. Ou o que jogando uma ou outra partida de boccie, é capaz de permanecer doze horas junto ao campo desse jogo; ainda o que lê o jornal inteiro diariamente, não podendo nem os anúncios fúnebres; ou o que, sem beber ou pouco bebendo, perambula o dia todo pelos bares, discutindo política (sem conhecer a ciência) ou esporte (sem ser esportistas).

Há os que gostam de “receitar” para os amigos. Só ouvir falar de uma doença, que já ante-põem a opinião categórica de um remédio tal, que “é um porrete”. Os que analisam os atos dos vereadores, do Governador, dos deputados e do Presidente da República. Os que tem soluções certas para o problema da carestia, da malandragem e da roubalheira. E por aí afóra.

Depois de ter vivido a metade da vida, o homem já conseguiu firmar o seu ponto de vista e ser também o detentor de suas próprias manias. E assim, escuda-se naturalmente contra o sôro dos demais.

Daí, o resultado de firmar-se que cada louco tem a sua mania. E como cada louco tem a sua mania, nós também temos a nossa, fundamentada nos motivos já citados. E a nossa mania é não ir na mania da loucura dos outros loucos.

Extraído do Correio de Marília de 10 de fevereiro de 1959

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