Carnaval (7 de fevereiro de 1959)

Extra-oficialmente, inicia-se hoje no Brasil, o tríduo carnavalesco. Tríduo de quatro dias, bem entendido.

O carnaval, afirmam, é uma festa popular. Nós entendemos que “foi” popular, porque hoje em dia, “brincar” o carnaval, só mesmo como muito dinheiro e com muita boa vontade. A vida anda caríssima, não permitindo aos orçamentos modestos, a aquisição de fantasias ou apetrechos próprios para os folguedos de Mômo.

Por outro lado, o carnaval dos últimos tempos, metamorfoseou-se por completo, perdendo aquele sentido bonito de uma diversão sadia, onde participavam ricos e póbres, com o objetivo único de animar o espirito das agruras da vida. Temos visto, nos últimos anos, o disvirtuamento quasi total dos folguedos carnavalescos, quando foliões desbancaram para o excesso das liberações alcoolicas e daí para os exageros, muitas vezes atentatórios à própria moral e à família.

Certo é que nem todas as pessoas assim agem. Ainda existe o grande numero dos sensatos e conscientes, daqueles que procuram, nas brincadeiras carnavalescas, tão somente o sentido intrínseco da diversão pura.

Nós, embora não seja do tipo chamado “carnavalesco”, não somos, em absoluto, contra o carnaval. Entendemos que o povo tem o direito dessa diversão, principalmente quando aprecia de fato tal acontecimento. É justo portanto, que os que trabalham durante o ano todo, nesta vida atribulada, tenham o ensejo de “pular” durante êsse tríduo de quatro dias. Nós somos pelo carnaval, porém o carnaval pelas brincadeiras puras e sem excessos, inocente mesmo. Brincadeiras que não comprometam os que das mesmas participam ou que as mesmas prestigiam com suas presenças.
Somos eversos, isso sim, aos exageros que os cometem comumente, sob o pretexto de que nos carnaval “é assim mesmo”. Principalmente quando tais excessos pendem para comprometer a moral e os bons costumes, a família, a tranquilidade os mais exemplos públicos. Nesse ponto, somos contra o carnaval e não podemos conceber deslizes e imoralidades em qualquer sentido, justificados pelos folguedos de Mômo.

O povo, não se nega, precisa divertir-se, necessita de motivos para arejamento das suas preocupações cotidianas. Assim, os que são francamente do carnaval, justo é que se divirtam na ocasião, porém de maneira bonita, cavalheiresca, educada. Fazendo-nos recordar o carnaval inocente e divertido do passado, que saudosamente nos relembram nossos avós.

Que se divirtam todos, pois. Que o façam com sensatês, com moderação, com altivez, de maneira bonita, digna de encômios.

São os nossos votos sinceros, aos foliões marilienses.

Extraído do Correio de Marília de 7 de fevereiro de 1959

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