Ainda o preço dos estudos (17 de março de 1959)

Sôbre nosso artiquete de poucos dias, intitulado “Difícil estudar hoje em dia...” (12/3/1959), tivemos o prazer de receber incontáveis manifestações de solidariedade.

Diversos pais de família nos procuraram, para nos solicitar que continuássemos a campanha encetada, com o objetivo de alertar e despertar os interesses dos govêrnos, para o fim que focalizamos na ocasião. Ponderamos que nossos clamores, assim sózinhos, jamais poderiam produzir bons frutos e que mistér se faria que outros órgãos, inclusive poderes constituídos, formassem também ao lado de nossas intenções.

Efetivamente, é difícil estudar-se hoje em dia, apesar mesmo do notável progresso atualmente em curso, com a descentralização do ensino de vários níveis, processo revolucionário que constituiu-se numa das mais gratas providências de nossas autoridades educacionais, procurando propiciar meios aos jovens interioranos, de melhor e mais positivamente travarem conhecimento com as luzes do saber.

Note-se que nos referimos, na ocasião, apenas ao ensino primário e médio, sem termos abordado frontalmente a questão universitária, cujos cursos são caríssimos e difíceis para os filhos do póbres e mesmo até dos considerados da classe média.

Retivemos em nossa análise, de maneira especial, aos ciclos primário, ginasial, normal e de contabilidade. Fizemos alusões aos cursos noturnos e também aos gratuitos. E procuramos demonstrar o custos dos mesmos, no dias atuais.

Reforçamos a idéia, acrescentando que hoje em dia, já o ensino elementar que é o primário, torna-se alguma coisa de custosa e dispendiosa para as famílias póbres e em alguns casos, até para as chamadas “médias”. Um chefe de família que tenha três ou quatro filhos (o que não é raro) estudando, mesmo o curso inicial e mesmo sendo êste gratuito, como é o caso dos grupos escolares e das escolas congêneres oficiais, precisa fazer algumas “ginásticas” e esticar com elasticidade seu orçamento doméstico, para dar conta do recado. Cadernos e livros, lápis e até uma simples borrachinha, custam preços elevados, cuja soma das compras necessárias, adicionada as despesas de uniformes, (por mais simples que sejam) e de calçados (por mais baratos que póssam ser) representam verdadeiros “arrombos” no controle de “receita” e “despesa” de qualquer chefe de família.

Não há exagero, se afirmarmos que entre uniformes, cadernos e outros materiais necessários, a monta dos gastos de um aluno de apenas terceiro ou quarto ano, “raspa” (as vezes ultrapassa) a casa dos dois mil cruzeiros. Só as despesas iniciais, fóra as que continuarão a aumentar a corrente durante o ano letivo e sem contar-se com a gratuidade do ensino!

E o curso ginasial, o cientifico (ou clássico), o normal e o de contabilidade? Existem cadernos do tipo “brochura” que custam quasi 60 cruzeiros. E existem classes que exigem, “de cara”, a compra de até 10 desses cadernos! Fóra os livros e outros complementos e execto os uniformes, calçados e custo do ensino, quando este é pago!

Conforme dissemos, o problema é completo e só providências governamentais como as que aventamos em nosso artigo anteriormente citado, é que poderão atenuar um pouco essa situação. Isto é, os govêrnos devem isentar de todos os impostos e taxas o material escolar (inclusive calçados e uniformes) e vende-lo a preço de custo, através de órgão público especializado, exclusivamente aos estudantes. E que essa venda seja feita por gente capaz e honesta sobretudo, sem “marmeladas”, “caminho negro” ou preferências à determinadas classes ou pessoas!

Senão, nada feito.

Extraído do Correio de Marília de 17 de março de 1959

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