As evoluções da Banda dos Fuzileiros (26 de março de 1959)

Há uns três meses passados, aproximadamente em conversa com o delegado de educação física e esportes local, dizia-nos o amigo Naylor, de suas intenções em sugerir ao Prefeito Argollo Ferrão, que envidasse empenhos para trazer à Marília, no Dia do Município, a Banda dos Fuzileiros Navais.

Com nossa franqueza habitual, aplaudimos a idéia, não sem ter deixado de antecipar algumas dúvidas, pois sabíamos nós, que tal acontecimento demandaria despesas forçadas de alimentação e transporte, para duzentos homens mais ou menos. E dissemos que apesar da idéia ser algo arrojada, em face a certos aspectos econômicos, se tal viesse a acontecer, estariam os poderes municipais proporcionando ao público em geral, um espetáculo dos mais maravilhosos imagináveis.

Da idéia às providências da realidade foi apenas um pulinho. Já está confirmada, de maneira efetiva, a presença em Marília dessa colossal Banda Marcial. Nossos aplausos, portanto (a idéia e aos trabalhos neste sentido).

Sucede que também não há muito, participamos de uma reunião preparatória com respeito ao desfile cívico do Dia do Município, assembleia essa levada a efeito no Colégio Estadual. E na ocasião, indagamos sôbre o local onde os fuzileiros iriam apresentar suas evoluções demonstrativas. Foi nos asseverado que éra pensamento do Sr. Prefeito, apresentar êsse espetáculo na Avenida Sampaio Vidal. Ponderamos então, que o local é impróprio para tal acontecimento. E justificamos nosso ponto de vista, devido já termos presenciado, por mais de uma vez, tais estupendas evoluções da Banda dos Fuzileiros Navais.

Ainda há pouco, palestrando com o vereador Miguel Netto, incumbido da elaboração dos adendos ao programa oficial das festividades de 4 de abril, tocamos casualmente no assunto. E tivemos a confirmação de que as exibições da Banda serão mesmo na Avenida.

À guisa de colaboração, queremos aquí alertar o Sr. Prefeito e os Srs. Membros da Comissão dos Festejos, de que surgirá uma grande inconveniência nessa idéia de que os fuzileiros se exibam na Avenida. A maioria da população ficará privada de presenciar esse majestoso espetáculo, que, desta fórma, só será apreciado em todos os seus ângulos, pelas pessoas que consigam formar as primeiras partes da “cerca humana” junto aos cordões de isolamento e por outras pessoas que se plantem nas sacadas de alguns prédios. A maioria, o grosso do povo, não terá o ensejo de ver o espetáculo referido. Isso porque, sendo as evoluções desenvolvidas dentro de um nível igual ao terreno, não haverá chance para que milhares e milhares de pessoas póssam assistir, sob os mesmos ângulos e idêntica visibilidade, a realidade desse acontecimento. Seremos mais claros ainda: até um “camelô” que esteja apregoando suas “maravilhas”, quando cercado de gente, oferece chance para que somente os que estão perto do homem vejam o que está acontecendo; três ou quatro filas atraz da testa do “bolo” nada veem, por mais que procurem “empinar” e esticar os pescoços.

Óra, será um verdadeiro crime, privar milhares de pessoas de apreciar “de visu” esse maravilhoso acontecimento, coisa inédita em Marília, espetáculo digno de ser visto por todos, pela beleza das condenações marciais, movimentos, música, formações e mutações que apresenta.

O local apropriado é o Estádio de futebol, com suas arquibancadas em nível elevado, oferecendo visibilidade completa. Sôbre isso, falamos na reunião e ao mesmo tempo alertamos os poderes públicos, para o fato de que algumas partes das arquibancadas encontram-se oferecendo perigo para excessos de peso humano. Tornamos ainda a manifestar nosso ponto de vista a respeito, com o fito de colaborar no caso.

Verificação das partes das arquibancadas em condições impróprias e realizar no Estádio Municipal as evoluções da Banda dos Fuzileiros, será a medida que melhor agradará ao público, só não apreciando o espetáculo o numero que exceder a lotação máxima ou os que não se dirigirem para lá. Porque, na Avenida, muitos comparecerão desejosos de ver o acontecimento e não terão o ensejo conforme irão esperar.

Não se confunda um desfile, em que as tropas passam ao longo do trajeto, com as evoluções referidas, que se realizam num mesmo local, local que não poderá ser tomado pelo povo, povo que se acotovelará nas demarcações dos cordões de isolamento, cuja “testa” apreciará o desenrolar das coisas e a demais gentes, que será a maioria absoluta, nada presenciará!

Existe, é fato, o problema do encontro do futeból. Entretanto, pensamos, o deslocamento de horário da peleja, em uma hora para mais e a antecipação da exibição dos fuzileiros em algumas horas antes, talvez possa acomodar a situação e disto resultar benefícios para o público, esse público que aguarda ancioso a presença desse belíssimo e inédito espetáculo.

Póde ser que estejam errados, mas não cremos. Póde dar-se também que estejamos certos e, assim, muita gente ficará decepcionada com o fato, se nosso palpite vier a concretizar-se e pouca gente apreciar o acontecimento.

Aquí fica a sugestão.

Extraído do Correio de Marília de 26 de março de 1959

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