Banditismo moderno? (20 de março de 1959)

Não fôra o desassombro do jornalista David Nasser e um crime dos mais abomináveis dos últimos tempos, ter-se-ia cingido a uma repercussão pequena, ganhando a indiferença poucos metros além do local onde fôra cometido e onde fôra pela primeira vez julgado.

Entretanto, a série de reportagens a respeito, divulgadas pelo aludido profissional de imprensa, sacudiu a opinião pública nacional, desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul. O ato do juiz Souza Neto, de impronunciamento do acusado, foi anulado por estância superior e o mesmo já se encontra atrás das grades, para ser efetivamente julgado.

Se houver ou não êrro da Justica, não competirá a nós, que não somos leigos, mas sim “analfabetos” em leis, comentar o fato. Uma coisa será inegável, ante o desenrolar das circunstâncias vigentes no setor de excessos e liberdades de centenas de “mocinhos bonitos” e “play bestas”: São Paulo e Rio estão hoje entregues ao banditismo moderno!

Como se não bastasse os casos sem conta, registrados pela crônica policial acêrca dessa casta de depravados e marginais, aponta constantemente a imprensa, a série interminável de roubos, assaltos e latrocínios nos dois maiores centros da nação. Até os famosos “gangsters” de Chicago possuem imitadores em São Paulo e na Capital Federal, assaltando em pleno dia e fugindo em “condução própria”!

O banditismo prolifera e se expande incrivelmente, tornando atônitos os que têm sobre os ombros a responsabilidade de zelar pela integridade física da sociedade e pelo segurança do bem comum. Pensando bem, o assunto chega a causar pânico aos que mais acuradamente raciocinam sôbre suas consequências seguidas e irrefreáveis.

Tornam-se urgentes medidas mais drásticas, fôra de dúvida, contra os que se utilizam de tão abjetos expedientes.

Jornais de São Paulo e do Rio, trazem sempre várias páginas consubstanciadas no noticiário dêsse tipo. São assaltos, mortes, latrocínios, seduções sem conta; são estupros, são barbaridades de toda a forma, como os casos recentemente ocorridos em Araraquara, o caso de Aída Curi, os casos dos mendigos queimados vivos!

Afinal, para onde caminhamos?

Temos a impressão de que ninguém está seguro ou sossegado nas grandes capitais hoje em dia, em decorrência dêsse estado de coisas.

Está imperando sem sombra de dúvidas, um banditismo moderno. E no seio da própria civilização, entre os povos residentes nas duas maiores e mais dinâmicas cidades do Brasil!

De um lado, a facilidade de aquisição de armas, deve ser responsável em parte pela situação em fóco; de outro, o dinheiro e a liberdade de “filhinhos de papai”, os cognominados “play boys”, cuja identificação deverá ser melhor ajustada como “play bestas”.

Os excessos de lotações nos cárceres, ocasionando “faltas de vagas” e em alguns casos “falta de verbas” para a manutenção dos fóra da lei, tem feito, segundo se diz, com que muitos marginais mesmo os mais perigosos, após presos, sejam fácil e prontamente postos novamente me liberdade. E sabido é que os errados nesse particular, apresentam uma cifra ínfima de regenerações; a maioria retorna à senda do crime, terminando por habituar-se. E então cria-se o círculo vicioso de prende-rouba (ou mata) solta.

O próprio Código Penal Brasileiro, que apesar de constituir-se numa das completas óbras correlatas de todo o mundo, tem também as suas válvulas de escape, suas interpretações múltiplas, resultando daí, em alguns casos, até a impossibilidade de provas contra fatos que se encontram “na cara”, o que em certas ocasiões, compromete até a polícia em certas deterncoes.

Baseados nesse pormenor indiscutível e “argumentados” com algumas cédulas de mil cruzeiros, muitos criminosos são soltos, saem arrotando “direitos e razões” e retornam confiantes ao mal anterior.

Precisam os govêrnos tomar providências mais enérgicas com respeito ao caso, aparelhando e amparando melhor a própria polícia.

É urgente o acabar-se com esse banditismo moderno entre nós.

Extraído do Correio de Marília de 20 de março de 1959

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